quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Um passeio pela sertaneja Teresina

Caminhar pelas ruas. Um hábito tão cotidiano pode revelar muitas surpresas, e elas podem ser belas e encantadoras para os olhos. Nos cantos de todas as cidades é possível ver belezas escondidas, são detalhes artísticos que passam desapercebidos por causa da pressa de todos os dias. Que tal caminhar mais devagar e admirar a arte escondida nos cantos das ruas da sertaneja Teresina? Sejam bem-vindos ao passeio.

Teresina é uma terra de surpresas, contrastes e revelações. Teresina dá aos viajantes e aos seus amantes moradores, a impressão de ser um lugar onde duas épocas diferentes convivem juntas. Pessoas simples vindas do interior, com pouca intimidade aos modernismos do século 21 cruzam pelas ruas com gente vinda de todos os cantos do país e do exterior. Mercados de rua oferecem artigos típicos e sofisticados centros de compra o que há em tecnologia de ponta.

Nesse ritmo frenético os seus lugares mais conhecidos se tornam cotidiano. Mas por trás desse cotidiano, o escondido se revela, basta um olhar mais atento, aos pontos turísticos que marcam a história da Teresina, que completa seus 159 anos. História essa que já começou de um jeito diferente uma vez que a capital sertaneja do Nordeste, foi a primeira planejada do país.

A cidade que foi inventada tem o dom de se reinventar todos os dias e seu povo é ator dessas transformações e seus lugares mostram o resultado dessa simbiose. São prédios históricos, são detalhes, as esculturas, o artesanato , a engenharia, as pessoas. Todos escondem a arte e a cultura que é construída em Teresina, e que estão se remodelando a cada dia. E isso vale mesmo ser visto







O que está protegido pelos prédios históricos

A Igreja de São Benedito, construção do século 19, é um dos marcos mais conhecidos e representativo da cidade, e é difícil não reparar nela, tal sua imponência. Mas são seus detalhes o que mais encanta. Suas portas, obras de Sebastião Mendes, foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: são feitas de jacarandá e cedro, trabalhadas em motivos florais. A escultura do padroeiro, São Benedito em tamanho real, e a cruz em frente ao prédio enegrecida pela fumaça dos carros, carregam as expressões de fé, das velas queimadas pelos devotos.

Mas para encontrar outra beleza da capital piauense basta apenas descer as escadarias da Igreja de São Benedito e atravessar a rua. Um belo jardim, que circunda o palácio de Karnak, a sede do governo do Estado. Eles foram projetados por Burle Marx, depois de uma reforma do prédio na década de 70. A faixada do palácio é inspirada em um templo de Egito Antigo que recebe o mesmo nome.

São mais de 100 anos de muita história e espetáculos, e dos jardins do Karnak para lá são apenas alguns passos. O Teatro 4 de Setembro conserva uma fachada com arquitetura de inspiração portuguesa e detalhes greco-romanos. Os detalhes, esculturas da leões que ficam nos cantos do telhado, simbolicamente protegem os que entram por aquelas portas, tanto como espectadores como atores. Em frente ao teatro, está a Central de Artesanato. Mas que a arte local, feita por celebres piauienses, o prédio reserva um marco da memória do país e da cidade. Um calabouço do tempo da ditadura militar, que revela nas marcas de sangue, a luta de artistas e intelectuais que defendiam os diretos civis, em um tempo onde pensar não era permitido.

"Ai troca, quem troca, destroca, minha Teresina não troco jamais" eternizado pela música "Teresina", dos compositores piauienses Aurélio Melo e José Rodrigues, o Troca-Troca já faz parte do roteiro turístico da cidade. Situado às margens do Rio Parnaíba (é uma feira onde se comercializa de tudo um pouco, mas tem coisa lá de inestimável valor, as histórias dos teresinenses, que até aos domingos lotam o local. A música é um exemplo de como o que parece invisível vira arte, e com um magnifico tom. 

Lendas e devoção são motivos para esculpir

Quem nunca ouviu a história do jovem Crispim que vira o Cabeça de Cuia, quando resolve passear pelas margens do Rio Poti, enquanto se encanta com a maravilha do Encontro do Rios Poti e Parnaíba. Neste mesmo lugar está o monumento Cabeça de Cuia. Uma escultura gigante que conta a lenda mais famosa da cidade sem precisar de nenhuma palavra. Os olhos se encantam e o desejo de levar aquele lugar para casa, se transforma em um ponto ideal para fotografias.

As lendas que se mantem vivas porque são passadas pela memória oral e escrita, inspiram também os escultores teresinenses. Outro motivo inspirador é a fé, por causa dela a arte santeira se confunde com o que é Teresina. Mestre Dezinho, mestre Expedito são a história dessas esculturas. Anjos, santos, partes do corpo humano para pagamento de promessas estão na lista das escultura que rodeiam Teresina.

“ Ser artesão é a minha vida, é o que eu sei e aprendi a fazer”, fala o mestre Expedito, com orgulho, mostrando a carteira profissional de artesão, com o número 2. O número 1 é uma homenagem feita pelos artesãos a Mestre Dezinho, uma referência para todos, no Piauí. As esculturas santeiras, feitas aqui já foram inspiração para o documentário Anjos do Piauí, que conta como estas manifestações religiosas são elaboradas. Exemplares dessas esculturas podem ser encontrados na Central de Artesanato e no Mercado Central.

As praças que a gente não vê

Parece que ela concentra tudo em apenas um lugar. A praça Marechal Deodoro da Fonseca, que atende por Praça da Bandeira é cercada pela história viva de Teresina. Tudo ali na sua proximidade tem algo a contar e manifestações culturais a revelar. No local estão árvores seculares que resguardam uma saborosa sombra, misturada com as flores, os pombos que costumeiramente são alimentados por quem passa pelo local.

Ladeada pela Igreja Nossa Senhora do Amparo, Mercado Central, Troca-Troca, Prefeitura e Palácio da Justiça e Shopping da Cidade essa praça é ponto de encontro e um lugar para encontrar todos os tipos de pessoas. Os cantadores de rua estão sempre por lá para animar os passos daqueles que cruzam a Bandeira. Música caribenha, forró pé de serra e as cantigas dos que escolheram aquele local como moradia podem ser ouvidas por lá todos os dias. A praça da Bandeira guarda ainda o marco zero de Teresina.

A praça conselheiro Saraiva é outro ponto que protege com as suas grades a Catedral de Teresina, a igreja Nossa Senhora das Dores fundada em1867, construída pelo Vigário Manoel Mamede e ampliada pelo Bispo Dom Severino. Neste ponto está também a escultura do homem que fundou a capital, e é homenageado com o nome da praça, Joaquim Saraiva. Outros homens bem menos lembrados também são marcos do local, seus moradores que vivem com as mãos esticadas, a procura de ganhar dinheiro na porta da igreja.

Atravessando as pontes : nossos cartões postais

Em um lugar que fica entre dois rios não poderia ser diferente, são dez pontes. As construções são responsáveis para manter o fluxo de pessoas e carros. Estão espalhadas pelas diversas regiões da cidade. Das zonas norte a sudeste e também rumo ao Maranhão. A primeira a ser construída foi a ponte metálica, originalmente chamada ponte João Luís Ferreira.

Projetada pelo engenheiro alemão Germano Franz, consumiu 702 toneladas de ferro em sua construção. Sua conclusão permitiu o estabelecimento da linha férrea São Luís –Teresina. A construção é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e todos os seus ângulos já foram eternizados por fotografias, e ainda assim não se esgotam.

A ultima dessas construções foi a ponte Estaiada João Isidoro França. O local é o ponto turístico mais novo da capital piauiense, e já foi incorporada pela cultura local. Seu mirante causa nostalgia, quando temos uma visão panorâmica de quase todos os pontos de Teresina. É o velho e o moderno se entrelaçando. Aliás modernidade e história, são mesmo a cara de Teresina.