segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Um caso com as japonesas


Nas manhãs a história é sempre a mesma. Onde está? E desesperadamente, ou melhor, enlouquecidamente ela vai atrás de seus amores. Após alguns minutos de busca ela avista a doçura. Achei! E logo coloca nos pés as suas japonesas.

Thays Teixeira
Miguel Alves, 31 de dezembro de 2012

sábado, 29 de dezembro de 2012

O fim do mundo


Todos os fins de anos eles se prometiam a mesma coisa: amaremos mais. E quando o fim de todos esses anos chegava tinham feito bem menos amor. E fora assim por longos 10 anos. Mas esse ano foi diferente. Com medo da morte, por causa das profecias de fim de mundo, fizeram, fizeram e fizeram. O mundo não acabou, mas a fonte do desejo sim. Mataram-se!

Thays Teixeira
Miguel Alves, 29 de dezembro de 2012

Inspiração


Seu Raimundo, com quase 80 anos, o que mais gosta de fazer é olhar os transeuntes pelos condobós da janela. Na noite de ontem brincou com ele mesmo inspirado com o que via.

Thays Teixeira
Miguel Alves, 28 de dezembro de 2012

sábado, 22 de dezembro de 2012

A defenestração de Mano Menezes *


Entre as teorias do jornalismo, está incrustada a do gatekeeper, onde o personagem jornalista é considerado um cão de guarda que fica à frente de um portão e irá definir o que é ou não notícia. E nesse universo de definir o que dará ao acontecimento comum o status estrelar de notícia muitos critérios vêm à tona. Uns bem evidentes, outros nem tanto. Por exemplo, o futebol sempre terá o seu espaço nas produções jornalísticas brasileiras. No país do futebol, onde a maior parte do noticiário esportivo é dominada por temas relacionados a este esporte especifico, certamente a demissão do técnico da seleção tomaria conta das pautas do jornalismo brasileiro naquela sexta-feira, 23 de novembro de 2012. E não foi diferente! O gatekeeper cumpriu a sua função.
Mano Menezes esteve à frente da seleção brasileira por mais de dois anos e tentou emplacar um estilo próprio de gerenciar seu time. O treinador comandou o Brasil em 39 jogos (contando com a equipe olímpica), conquistando 26 vitórias, seis empates e sete derrotas. E como no Brasil todo mundo entende de futebol, este estilo não agradou. Nem torcedores, nem o novo gestor da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, que apresentou a demissão do então técnico. A demissão veio como uma surpresa, já que a seleção brasileira acabara de ganhar o segundo título do grande clássico das Américas, contra a famigerada seleção argentina.
E depois de muitas entrevistas o que se percebeu foi que o Mano Menezes saiu decepcionado e sem entender bem o acontecimento, já que sua seleção estava vitoriosa. A decepção do treinador lembra o cronista Luis Fernando Veríssimo, quando descobriu o significado do verbete defenestração: ato de atirar alguém ou algo pela janela. “Acabou a minha ignorância, mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração?”, conta o escritor numa crônica.
Futebol sempre vira notícia
E, tentando responder ao questionamento, ele descobriu que a palavra defenestrar tinha origem francesa e que os franceses de antigamente deveriam executar muito esse hábito. De todo modo, quem sentiu na pele a dor amarga de ser defenestrado foi Mano Menezes. Talvez aí conste a decepção do treinador ao responder os repórteres, que cumpriam o seu papel de jornalistas especializados.
William Waack, âncora do Jornal da Globo, é um daqueles gatekeepers de que falam as teorias do jornalismo e a ele cabe a função de apresentar o telejornal e fazer a escalada de suas matérias, função que divide com Cristiane Pelágio. Nesta semana, o jornalista global exerceu sua atividade deixando claro seu conhecimento da língua portuguesa, que gosta de literatura e pode definir o que vai ou não ao ar na telinha da Globo.
O apresentador cunhou em sua atividade diária a palavra defenestrar ao tratar da demissão do técnico Mano Menezes, e palavra nenhuma poderia definir melhor, figurativamente, o ato que acabara de sofrer o profissional do futebol. Havia sido defenestrado, de uma janela (fictícia) qualquer da confederação brasileira, o técnico da seleção. Aquilo movimentou o país, na mesma semana em que outro atleta era julgado por assassinato (caso goleiro Bruno). O futebol sempre vira notícia.
Não é para qualquer um
E como já é sabido, a criatividade e o entretenimento são características que circundam o jornalismo esportivo nacional. Onde humor e mau-humor sempre podem estar presentes. Programas televisivos cheios de elementos técnicos, design, de personagens, de jornalistas que se misturam com o próprio acontecimento, de cores, e como assertivamente reforçou o Waack, até mesmo de defenestrações, caracterizam este modelo jornalístico, o de esporte.
Centros de pesquisa em jornalismo desenvolvem estudos sobre os novos formatos de produção em jornalismo esportivo e de como essa categoria se institui diferenciadamente no universo produtivo da comunicação. Talvez não nos decepcionemos com o estilo produtivo e nem com os profissionais especializados em esporte, do contrário estaremos em situação similar a de Veríssimo e Mano Menezes. Em vésperas de grandes eventos esportivos, o mercado do jornalismo está provando que pode propor gêneros jornalísticos, decidir com mais afinco o que será ou não notícia, que palavras podem usar e como interagir com o público. Em outras palavras, exercendo com demasiada habilidade a capacidade de serem gatekeepers e profissionais de decisão. Depois que o William Waack usou a palavra defenestrar numa escalada para a matéria de demissão de Mano Menezes, o jornalismo esportivo pode tudo! Afinal, defenestrar não é para qualquer um, e o jornalismo esportivo continua e graças a ele, a demissão do Mano, não teve nada de francesa, a não ser pela origem do verbete defenestrar.
Referências bibliográficas
VERÍSSIMO, L.F. O Analista de Bagé. Porto Alegre, L&PM Editores, 1982

*Texto publicado originalmente no Observatório da Imprensa, na edição de 27 de novembro de 2012, edição nº 722.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Silenciaram-me


Não está me entendendo. O que foi isso? De todo modo. Justamente. Não estou chateada. Esses são vocativos diários presentes nas conversas que teimamos em ter. E as temos por acreditar na necessidade do contato. Contato com corpos, braços, pernas, mãos, muito mais que com vozes. E nessa dinâmica incerta dos relacionamentos o que se tem, na realidade não se tem. Não se tem esperança. Não se tem sonhos. Não se tem fala. Não se tem dinheiro. E dizem que não se precisa dele. Tente não ter dinheiro. Tente viver sem ele. Tente trocar vocativos diários por meio de conversas sem ele. E na teimosia da fala sem dinheiro o máximo que se pode ter é o silêncio. Silenciaram-me.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As lembranças de uma meia

Minha mania de contar um dia me levará ao desespero. Se é que não já aconteceu. Numa tarde qualquer, tomei conta de que estava contando quantos fios de cabelo branco pincelavam sobre a cabeça de certo moço que conhecera. Tenho certeza que eles são contáveis, não eram muitos, mas minha concentração logo se esvaiu para outra curiosidade.
            Era algo impactante ao olhar. Sua combinação de roupas, algo intrigante, mais que os fios de cabelo acinzentados pelo tempo. Poucos senhores gostam de camisetas goiaba, eu particularmente as adoro, deve ter sido isso. Seus sapatos, tênis melhor dizendo, reluziam um tom de verde-limão, tão chamativo. Não, não era a camisa sim o tênis, agora tenho certeza.
            Dois cadarços, dois pés, o verde reluzente, e as meias! Que meias? Eu não as via, estavam encobertas pela calça jeans. Nesse estalo de pensamento, fiquei desesperadamente ansiosa para saber, como eram as meias? Que cor teriam? Eram com desenhos? Será que tem desenhos? Ele não seria tão despropositado!
            Eu precisava descobrir como tal moço compunha suas vestimentas integralmente, naquele dia. Desde quando o conhecera, queria arrancar suas vestimentas, e sensorialmente compreender cada espaço de sua estrutura corpórea. Esse seria o momento ideal, eu teria a desculpa de querer saber como eram as suas meias. Brilhante motivo!
            E como manda o figurino, ficamos longas horas conversando naquela tarde. Os mais diversos assuntos, os mais banais possivelmente e outros nem tanto assim. Entretanto os meus pensamentos não saiam das meias. E sem mais, resolvemos levantar da mesa e ir à busca de descobrimentos. Não como os portugueses, ou melhor, como eles sim. A propósito, os portugueses e o relacionamento deles com as índias foram um dos nossos assuntos inúteis, talvez nem tanto, se pensarmos um bocadinho melhor. E como borboletas em véspera de tempestade, partimos.
            Depois de doces 15 minutos de fuga, arrancou-me as vestimentas, e com intensa fúria teve sua retribuição. Só assim pude ver as meias: eram pretas! Fiquei decepcionada com aquela cor. Não porque não goste de preto, mas porque a meu ver não combinariam com o estilo leve de uma camiseta goiaba e tênis verde como o limão. Mesmo assim as brincadeiras foram densas, intensas, e coloridas. Lembrou o tempo da meninice, onde qualquer sorriso é quase sem querer, e geralmente se transforma numa gargalhada, sem peso algum.
            Quando os raios de sol se esconderam, e a brincadeira já findava, não hesitei em perguntar: - Porque suas meias são pretas?  E açucaradamente ele respondeu: - Claro que não, são azuis marinho, veja melhor! E fitei os olhos sobre o tom.
Aquela resposta me transportara para o universo dos pensamentos novamente.  Percebi que sua multiplicidade de cores era como o espectro de luz visível. E o vento forte que trouxe às borboletas as levou embora novamente. Ainda quero saber quantos fios claros estão lá, um dia.
Foi quando parei de ler aquela velha história, naquele velho livro que ficava jogado sobre a poeira de uma estante que também é velha.
           

Rio de Janeiro, 29 de setembro de 2012.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Indústria de papéis e o desafio de publicar


Thays Helena Silva TEIXEIRA
Jornalista. Aluna do programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Piauí (PPGCOM-UFPI). Pesquisadora do Grupo de pesquisa em Comunicação, Economia Política e Diversidade (COMUM).

Publicar para quê, se é sem querer? Parafraseando o verso da música “Sem querer” de Renato Russo proponho uma breve reflexão sobre o universo das publicações científicas. Nas primeiras aulas do meu curso de Mestrado a professora Dra. Graça Targino argumentou que papel não era tudo. Ela se referia ao exagero de cobranças em relação às publicações e a despeito da quantidade delas. Reconhecidamente esse é um desafio para todos aqueles que arriscam enveredar pelo universo científico. Publicar em periódicos deixou de ser uma proposição da meritocracia e passou a ser uma “titulocracia”.
Aterroriza-me os editais das publicações: SÓ ACEITAMOS TRABALHOS DE DOUTORES! Até a oportunidade de avaliação de trabalhos, que pudessem contribuir para a compreensão do campo científico, feitos pelos não portadores de tais títulos é usurpada.
Mas por quê? No encontro nacional da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), em 2011, a temática do evento era baseada em uma pergunta: “Quem tem medo de pesquisa empírica?”, e tentava debater sobre este universo nas pesquisas em Comunicação, inclusive a divulgação delas. No entanto o que mais me chamou a atenção naquele evento não foi à temática central, e sim um grupo de discussão que analisava o processo avaliativo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em relação aos programas de pós-graduação no Brasil e das revistas científicas, principalmente o sistema Qualis.
O sistema Qualis nivela a “qualidade” das revistas científicas no país. Ele institucionaliza pontuações para elas e dentre os critérios avaliativos está à exigência de publicações de doutores. O sistema sugere que quanto mais doutores publicam, e de outras regiões que não contemplem o espaço geográfico de tais revistas, melhor ela será indexada. Oras, com um sistema de produção nesses moldes e com exigências deste tipo não é de se surpreender que os corpos editoriais das revistas reproduzam o mesmo caminho. A intenção de cada edição é subir de “nível”, no ranking que é realizado.
Naquele mesmo grupo de debates, o professor do Programa de pós-graduação em cultura contemporânea da Universidade Federal da Bahia, André Lemos apontou que este é um problema que acarretam outros. O pesquisador afirmou que tais cobranças fomentam uma produção indiscriminada de artigos científicos, e a multiplicação de produções feitas por um autor, assinadas em grupo somente para conseguir atingir a cota, e conseguir burlar o sistema de aceites.
Isso fomenta um duvidoso olhar sobre os trabalhos científicos. A qualidade dos mesmos é posta em xeque e os autores acabam, como se diz pelo Nordeste, “parindo artigos”. Isso significa que ficam sem tempo satisfatório para avaliar o grau de coerência dos trabalhos e se de fato há contribuição para a realidade social ou para a própria ciência neles.
Esse cenário indica que é preciso repensar a proposição inicial. De fato, os papéis não são tudo, mas esse modelo produtivo de trabalhos acadêmicos, em estilos neoliberais faz com que eles se tornem. E até mesmo aqueles docentes que discordem dessas orientações se veem obrigados a seguir a mesma linha produtiva para garantir direitos em seus locais de trabalho, as universidades.
Os processos globalizantes da academia transformaram o mundo científico em um caleidoscópico social, onde as estruturas de poder, políticas e culturais se encontram enviesadas pela lógica econômica. Assim, a luta dos capitais simbólicos parece perder espaço, enfraquecendo exponencialmente a autonomia da ciência, como tanto defendia o sociólogo Pierre Bourdieu (2004).
É preciso repensar o modo como são feitas as pesquisas cientificas e os desafios para que esse modo de fazer ainda atinja outro patamar. Que o campo científico se torne menos político e corporativista e passe a ser pensado a partir de seus próprios desafios e problemas, sem uma influência tão marcante de instituições de gestão. Assim a noção de campo é implantada como uma prática combativa, onde é preciso criticar os modelos atuais.Bourdieu faz verdadeiro convite, em prol da mobilização do coletivo científico para que ele vá buscar a sua própria autonomia. “O campo científico é um mundo social” dizia ele.
A ciência deve ser colocada ao uso da ciência – um dos usos sociais que é esquecido. A legitimação da prática científica é argumentada pela demanda social, em muitas instituições como uma forma de justificar determinadas atitudes. As particularidades internas de cada campo mudam radicalmente as noções, que cada um possui quanto a quem interessa de fato, a ciência.
Essa busca por uma autonomia, talvez seja a saída para o problema posto em voga, neste espaço. Como evitar o preconceito de publicações advindas de pesquisadores que ainda não possuem os títulos máximos? O que se deixa de lado com esse modelo é muito mais que qualificação de pesquisadores. Fica de fora do circuito das publicações às polifonias, a criatividade, a genialidade e o direito de poder divulgar aquilo que se descobre ou observa por meio da ciência.
E finalizo lembrando Carl Sagan, se a ciência é a nossa coisa mais preciosa, porque divulgar nossas preciosidades está tão mais difícil? Talvez seja mesmo a industrialização do conhecimento.

Bibliografia consultada
BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: UNESP, 2004.
BRAGA, José Luis, A constituição do Campo da Comunicação. Revista Verso e Reverso, UNISINOS, 2011.
SAGAN, C. A coisa mais preciosa. In: SAGAN, C. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo: Companhia da Letras, 2005.
TARGINO, Maria das Graças. Libertação pela redação técnico-científica. In: DUARTE, J.; BARROS, A. T. de. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2. ed. 2. reimpressão. São Paulo: Atlas, 2008. p. 364–380..

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sobre os sorrisos de uma senhora


Um sorriso. Essa linda reação foi à primeira das tuas bondades que conheci e tamanhas a admiração que sinto pela jovialidade que transmites por meio dela.
Mesmo que o dicionário o defina como ato de movimentar os músculos faciais sem fazer ruídos, eu me dou o direito de discordar e dizer que sorrir é emitir alegria. Que músculos juntos não simbolizam a riqueza dos sorrisos. Porque sorrir é expor a brandura da alma, penso.
Escritores de todo o mundo já se permitiram refletir sobre o sorriso. Tomo para mim, algumas linhas que José Saramago em certo tempo de sua vida ousou rabiscar, sobre tal ato humano. “O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contrações musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frêmito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso”. É lindo, é doce, é sensível. São palavras que somente um gênio, tão delicado, como Saramago poderia expressar.
E é incrível como essas linhas definem a doçura do teu sorriso. Quando as leio sempre penso na senhora. Elas são tão radiantes de beleza e simplicidade, como quando a gente te vê sorrir. E que bom que eu conheci diversas facetas da sua pessoa e de alguns dos seus sorrisos, todos eles humanos, por isso mesmo belo.
Sempre que os anos passam a gente se pergunta o que ainda virá? Eu sempre tenho a mesma resposta: virão muitos sorrisos, porque viver pode até ser chorar algumas vezes, mas outras tantas é sorrir. Quando nascemos à gente chora por nos assustamos com o estranho mundo e logo em seguida sorrimos porque enfim vemos o rosto dos estranhos que conversavam com a gente ainda no útero. Sorrir é uma ação que nos acompanha desde a tenra idade. Todavia nem todos crescem com a dádiva de rir mais que chorar. Porque nem todos vencem com o sorriso. Que bom, que você venceu, sorrindo.
Longevidade é uma conquista e quando ela vem com sorrisos mostram que os vencedores sempre nos presenteiam com eles. Felicidades aos milhões, para que os sorrisos se repitam com números maiores.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Raízes

Porque eu gosto tanto de aventura? Na realidade eu não sei se gosto, mas elas vivem tomando as rédeas da minha vida.  A última foi na minha querida terra natal, o Maranhão.
            Como a maior parte da minha família ainda mora lá, vivo retornado à cidade de nascimento, Buriti. Um lugar pequeno que carrega todo o bucolismo típico das cidades interioranas e pequenas. Parece até um verso das poesias árcades. Mas, com traços de modernização e da pauperização  promovida por longos anos de gestão política mal exercida. Aquele velho regime sarneylista que dispensa comentários, de como é praticado.
            Tudo parecia tranquilo, passei três dias e iria voltar de ônibus até a cidade vizinha onde meu pai me esperaria para me levar de moto a Miguel Alves, já no Piauí. Esta ultima cidade, é onde os meus pais moram, mesmo em outro estado são apenas 35 quilômetros de distância da minha cidade natal. Quem disse que meu pai apareceu?
            Fiquei de ligar por volta de cinco horas da tarde para confirmar que já estava aguardando ele. No entanto, a operadora de celular estava fora do ar onde o meu pai mora, e ele mesmo sabendo do não funcionamento ficou esperando que eu ligasse. Meu pai, não tem mesmo jeito, será sempre avoado. Não foi me pegar!
            Resultado: Peguei uma corona até a margem maranhense do rio Parnaíba, atravessei de balsa e na outra margem peguei outra carona. Isso já eram quase seis da tarde, horário que passa o ultimo ônibus para Teresina, a capital piauiense, que era meu destino final. Deu certo! Cheguei em Teresina, mas não consegui contatar meus pais, porque a operadora ainda estava sem sinal.
            Já tarde da noite meu pai me liga. – Pelo amor de Deus, onde é que tu está? Estou aqui rodando o Maranhão todo te procurando, tua mãe está quase enlouquecendo. Porque tu não ligou? Eu respondi. – Pai, eu estou em casa em Teresina. E eu liguei feito uma condenada. Mas, a TIM estava fora do ar, o senhor não percebeu, e ainda mais sabia que eu estava lhe esperando cinco horas. Ele continua. – Eita era mesmo, por isso que num dava certo tu ligar. Desliguei o telefone, só de raiva. Conclusão: Tenho quase certeza que o meu pai tem problemas de associar as coisas.
            Nesse dia eu vi um lindo por do sol as margens do velho monge (rio Parnaíba), como é lindo. Acho que isso me fez ver que mesmo com um desafio enorme na frente, ainda é possível terminar de um modo elegante e belo. Adoro as minhas raízes elas são simples e sem luxo, mas são profundas.
            

domingo, 22 de janeiro de 2012

Não sei .... mas eu só queria a poesia

Há uns dias, eu estava conversando com uma pessoa sobre sentimentos e sobre amor. Confesso que esse tipo de conversa não costuma me agradar muito. Não pelo conteúdo denso que elas habitualmente carregam, mas pelo fato de eu não entender muitas das reações das pessoas que já foram ou são amantes. Tenho tido cada vez mais certeza que ainda me faltam tais experiências.

Entre as nossas falas uma que marcou muito foi: porque as pessoas insistem em nos cobrar que sejamos ultra-românticos? Faço-me essa pergunta costumeiramente, e não sei a resposta. Porque eu tenho que ser meiga e gentil sempre, ligar um milhão de vezes por dia, ver toda hora, não poder fazer uma viagem sozinha, avisar sempre que vou a algum lugar, deixar de passar as férias na casa de meus pais, compartilhar as histórias das minhas amigas (os), sendo que elas (es) nem são confidentes deles; - Eu não confio em vossos amores! Entre outras ações que são típicas das relações afetivas idealizadas como perfeitas, isso me causa uma tristeza. Ainda não aprendi a ser assim.

Tenho dito ultimamente, que preciso de um amor tranqüilo. E talvez precise mesmo, mas que a tranqüilidade dele me possa ser um porto seguro, não uma ilha prestes a afundar todas as vezes que eu não atender ao telefone porque eu não quero, não vi ou ele estava no silencioso. Tem dias que eu não quero falar com ninguém, com ninguém mesmo, como vou lidar com isso? Preciso de um amor tranqüilo, que possa não falar comigo, mas que quando o contrário acontecer ele seja avassalador.

É engraçado de todo esse meu “achismo” e talvez um desabafo. Não adianta os próximos me dizerem que eu preciso ter calma que minha hora vai chegar, e tal e tal. Sempre que me dizem isso me sinto mais derrotada; - Não sei amar! Mas, ao mesmo tempo me questiono se amor é só essa questão, ter namorado (a), noivo (a), ou marido (esposa). Amar os amigos não conta, não é o tal sentimento se manifestando. Essa barreira me apavora! Eu posso amar intensamente a muitos amigos, fazer loucuras e doçuras com eles, ser fiel e respeitoso com todos, mas para o outro amor essas regras não valem. Valem aquelas dos hábitos citados acima, tão dependentes e até certo ponto egoístas, não sei. É preciso que seja só um!

O que percebo com tudo isso é que ser sozinho, e estar bem com isso, é fazer parte de uma escala de seres-humanos que veio ao mundo com defeitos. E quando eles começam a racionalizar sobre tal assunto, se sentem mais estranhos nesse ninho de amantes! No fim da conversa: - Depois nós nos acertamos! Eu não sei o que ele quis dizer, mas eu entendi que de fato eu preciso entender, e viver a tal experiência, mesmo achando que eu estou levando uma vida da qual eu me orgulhe, até nos baixos que ela sempre tem.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A película da mata

Há alguns dias eu visitei uma doce amiga. E para chegar a casa dela foi preciso caminhar alguns minutos em meio à mata. Estava deslumbrada com o barulhinho dos pássaros, com as cores das borboletas e com o verde límpido das folhas em seus diversos tons, lembrou o caminho que me levava às margens do Parnaíba na adolescência. Uma sensação tão carinhosa, que me fez nem ver o tempo passar, de repente já estávamos no destino final, não era um rio, mas o lar.
 Sua casa parecia àqueles cenários de filmes, tinha um ar da película envelhecida, não no sentido de ser uma casa velha ao contrário, lembrava a altivez daqueles, com seus cortes excêntricos e com o classicismo que eles carregam. Me encantou! O lar estava ali reinante no meio da mata. Com seus cinco quartos, uma extensa cozinha que reúne a todos, suas salas, corredores, biblioteca e escadas, esses espaços entremeados por móveis com histórias. Alguns deles advindo de demolições, outros herdados pela história familiar.
A casa tem a cara da sua dona, com a mesma poesia refletida, e olhar que às vezes é próximo doutras vezes tão distante. Seu nome é May, que quer dizer divindade da mata, não poderia ser outro para quem é tão apaixonada por esse ambiente. A doce May é o detalhe que faz da casa um lugar único, vai virar um “móvel” dela, como as fotografias antigas que ficavam dependuradas na parede.