Era
algo impactante ao olhar. Sua combinação de roupas, algo intrigante, mais que
os fios de cabelo acinzentados pelo tempo. Poucos senhores gostam de camisetas
goiaba, eu particularmente as adoro, deve ter sido isso. Seus sapatos, tênis melhor
dizendo, reluziam um tom de verde-limão, tão chamativo. Não, não era a camisa sim o tênis, agora tenho certeza.
Dois
cadarços, dois pés, o verde reluzente, e as meias! Que meias? Eu não as via,
estavam encobertas pela calça jeans. Nesse estalo de pensamento, fiquei
desesperadamente ansiosa para saber, como eram as meias? Que cor teriam? Eram
com desenhos? Será que tem desenhos? Ele não seria tão despropositado!
Eu
precisava descobrir como tal moço compunha suas vestimentas integralmente,
naquele dia. Desde quando o conhecera, queria arrancar suas vestimentas, e sensorialmente
compreender cada espaço de sua estrutura corpórea. Esse seria o momento ideal,
eu teria a desculpa de querer saber como eram as suas meias. Brilhante motivo!
E
como manda o figurino, ficamos longas horas conversando naquela tarde. Os mais
diversos assuntos, os mais banais possivelmente e outros nem tanto assim.
Entretanto os meus pensamentos não saiam das meias. E sem mais, resolvemos
levantar da mesa e ir à busca de descobrimentos. Não como os portugueses, ou
melhor, como eles sim. A propósito, os portugueses e o relacionamento deles com
as índias foram um dos nossos assuntos inúteis, talvez nem tanto, se pensarmos
um bocadinho melhor. E como borboletas em véspera de tempestade, partimos.
Depois
de doces 15 minutos de fuga, arrancou-me as vestimentas, e com intensa fúria teve
sua retribuição. Só assim pude ver as meias: eram pretas! Fiquei decepcionada
com aquela cor. Não porque não goste de preto, mas porque a meu ver não
combinariam com o estilo leve de uma camiseta goiaba e tênis verde como o
limão. Mesmo assim as brincadeiras foram densas, intensas, e coloridas. Lembrou
o tempo da meninice, onde qualquer sorriso é quase sem querer, e geralmente se
transforma numa gargalhada, sem peso algum.
Quando
os raios de sol se esconderam, e a brincadeira já findava, não hesitei em
perguntar: - Porque suas meias são pretas? E açucaradamente ele respondeu: - Claro que
não, são azuis marinho, veja melhor! E fitei os olhos sobre o tom.
Aquela resposta me transportara
para o universo dos pensamentos novamente.
Percebi que sua multiplicidade de cores era como o espectro de luz
visível. E o vento forte que trouxe às borboletas as levou embora novamente. Ainda
quero saber quantos fios claros estão lá, um dia.
Foi quando parei de ler
aquela velha história, naquele velho livro que ficava jogado sobre a poeira de
uma estante que também é velha.
Rio de Janeiro, 29 de setembro de
2012.