terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Um encontro de pessoas sérias

Um dia resolvi mandar uma mensagem para uma das minhas melhores amigas e convidá-la para fazer uma viagem em novembro. Eu, de longe, tenho muito apreço por ela, que é a melhor companhia de viagens do mundo, pelo menos para mim. E me perdoem os demais amigos, eu precisava dizer isso, porque tal informação faz diferença nessa história.

Decidimos que iríamos mesmo a Jericoacoara e pagamos tudo. Só restava esperar chegar à data e partir. Entretanto uma sequência de fatos mudaria toda a tranquilidade que buscávamos nessa nova aventura. Os anúncios de shows em Teresina. Isso gerou uma sequencia de fins de semana ocupados por pura e simples diversão. E então do dia primeiro ao dia 30 de novembro de 2013 tudo foram histórias. As mais engraçadas e memoráveis possíveis, que cada uma daria um conto.

“Eu quero um amor que seja bom mim”, cantou o Frejat, mas o que arrepiou mesmo foi o “exagerado, jogado aos teus pés”. E de cara o primeiro dia de novembro nos mostrou que o que queríamos era de fato nos jogar aos pés do extremo exagero, podia ser até calçadas no all star do Nando Reis, que também brilhou naquela noite. Tudo muito lindo, tudo muito legal, mas o melhor foi às falas da Polly (a viajante) e da Ingrid. Meninas, eu percebi de perto que tangiroscas alteram o raciocínio e o dito. Assim o mundo faz mais sentido. Samira, o que diabos, aconteceu com o seu pé? E porque fumar crack em Ibiza? Pessoas sérias vocês!

No show do Capital Inicial estávamos ricas e fomos de front. Claro, tem que ter alguma vantagem em ser jornalista. De vez em quando esses mimos alegram a nossa vida. E como disse o Dinho, o show foi resumido em duas palavras: DO CARALHO! Todo mundo gritou junto, evidentemente lembrando a sequencia de termos dito pelo cantor no último rock in Rio, só faltou o Sarney. Dinho é muito sério!

Depois, veio o velho do Avorrai. Ah, tínhamos que ir de qualquer modo ao show do Zé Ramalho porque ele já está velho, foi internado e poderia morrer antes que víssemos um show dele. Isso não poderia acontecer! Eis que fomos, e nesse foi todo mundo mesmo. Sávia um beijo para você, que agregou valor e #statis. A gente quer sempre que vá, viu. Pessoa séria você.

Já no meio do mês chegou a hora de pegar o busão e ir para Jeri. Eu e Polly não sabíamos falar em outra coisa, nossos amigos já estavam achando chato. E piorou depois que a viagem acabou, só digo isso.

Chegamos para pegar o ônibus, depois de muita dificuldade para achar o local exato embarcamos. Já no Ceará, em Jijoca eu percebi que jardineira é o mesmo que pau de arara e eu nunca tinha andado. Subimos no pau de arara, atravessamos as dunas, muito lindo por sinal, avistamos a vila de Jericoacorara e ficamos mais felizes. Era um sonho se realizando. Meu amigo, deu mal tempo tomar café e um banho, quando nos avisaram que a Lagoa do Paraíso era o destino. Com um nome desses era só o que eu precisava. É o paraíso. E ainda tiramos as fotos nas redes que ficam dentro d’água. Oh invenção genial. Logo pela manhã a gente conhece a Ludmila, uma mineira muito “nuuuu” e o Neto, piauiense típico. Ah, a gente conheceu o W.e também, mas ainda não sabíamos disso. Arrocha, menino, vocês tudim são pessoas sérias. Também vimos o por do sol na duna de mesmo nome, levamos uma taca de areia, porém lindo.

Na mesma noite, fomos tomar mojitos, caipirinha, maracujarosca, cajarosca e Zogori. Por falar em Zagori – uma bebida destilada de uva de origem grega – teve o Demóstenes, um grego legal que não tinha nada de deus. Só gente mesmo. Também muito sério. E a folia da noitada foi marcada pelo We ensinando a dançar o Arrocha, segundo ele a dança é fundamentada em dois passos: os pés devem desenhar um W, e depois voltar em “e” minúsculo. Taí a causa o apelido do Gabriel. Ele tinha passado o dia ouvindo as nossas conversas na lagoa do Paraíso, sem dar um piu, quando a Lud chegou no hostel e percebeu que o bixim estava no mesmo quarto que ele. “Ohhh, vem com a gente, tu tava sozinho, lá na lagoa”, disse. W.e responde que até pensou em falar, mas desistiu e ressaltou que sabia de tudo que tínhamos conversado. Baiano esperto deve até ganhar o reconhecimento de indicação geográfica, como um ilustre de Feira de Santana. Pessoas seríssimas!

No outro dia, veio à pedra Furada, longe pra caralho, lagoa Azul (não é o filme, mas poderia), arvore da preguiça, e a Lagoa do Paraíso de novo, porque bom mesmo é o paraíso. Na noite, veio o caipirão, o Breno e o forró da Dona Amélia. Só foi triste porque o W.e foi embora. Explico-me, caipirão é uma caipirinha de 800 ml e que a dose é um copo americano. Valha-me como a gente foi feliz! O forró veio depois dos caipirões, pense aí! Breno, um pernambucano que tomou mais de dois caipirões, é caba muito sério. Até para ficar repetindo o nome do Demóstenes em pernambuquês. Tão bonitinho. A manhã chegou e vimos o amanhecer na praia. Acabou a viagem e voltamos sem olhar para trás e repetindo que lá era o melhor lugar do mundo. Vamos voltar Jeri, pode esperar.

O sábado seguinte, veio com todo o dadaísmo do Djavan. E eu revirei o coração ao ouvir Samurai. Agregamos a Lud em nossas vidas, o que foi sensacional. Djavan foi tão zen! Na saída quase não conseguíamos pegar um táxi, que dirá três. Nesse momento de luta para voltar para casa resolvemos que iríamos todas deixar uma garotinha em São Luís, a Andressa , filha da comadre da minha mãe, que passaria as férias na ilha. Cheguei a conclusão que levar adolescentes para outras cidade poderia ser a minha profissão. Antes de chegarmos a ilha maranhense, nos deparamos com um manifestação, e ficamos parados na estrada.

A estadia na ilha do amor, foi muito divertida e exótica. Exotismo também presente no povo maranhense, eu sou maranhense, é importante ressaltar. Fomos ao reggae no bar do Nelson, e a Polly quebrou uma garrafa de cerveja alheia e foi coagida a dançar, não deu muito certo para o dono da tal cerveja. Ele não era uma pessoa séria. Depois vieram a praia, o sol, os azulejos do centro histórico, o sorvete de coco na colher, os doces de espécie, o taxista Leandro péssimo informante sobre baladas legais. O Com Certeza, com certeza não é um lugar descolado. Na hora de voltarmos, bom aí já era dezembro.....



quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Lágrimas e sabão

Dona Maria que todos os dias teimava em temperar a carne do mesmo jeito achava que deveria mudar. E a decisão veio depois que o seu menino mais novo reclamou dizendo que não gostava da sua comida porque havia pimenta demais. E todo mundo que já comeu o bife acebolada dela sabia que poderia ter outro nome: bife apimentado. Dessa maneira a velha Maria passou a colocar menos pimenta na comida.

Mas as mudanças da vida não acontecem aleatoriamente e muito menos afetam uma coisa apenas, naquele caso o gosto do almoço da família daquela senhora. A pimenta parece que se revoltou com a Maria e a abandonara, não somente o de comer. A pobre que vivia alegre e cantarolante enquanto compunha a comida dos filhos começou a perder o gosto por essa felicidade diária. A pequena reclamação do seu mais novo a fez pensar em tudo o que já vivera e o resultado desses pensamentos, a despimentaram.

É preciso aceitar muitas coisas que acontecem e algumas delas certamente lhe arrancam lágrimas. Depois você vai se acostumando e vivendo, mas aí chega uma hora que fica difícil e nos sobram as lágrimas novamente. Esse destino foi o de Maria. Ela por uma simples reclamação começou a rememorar os seus velhos sonhos e percebera que eles não tinham se tornado. A senhora começou a achar que ela havia transferido a pimenta de sua vida para o tempero da carne. Mas é aquela coisa, e ela entendia assim: as lágrimas são o sabão do corpo. Começou chorar.

Maria sonhava, quando ainda jovem, em ser artista, dessas que pintam quadros e conhecem o mundo inteiro. Ela sempre pensava na Frida Kahlo, mesmo não a achando um exemplo assim de belo. A artista mexicana era transgressora e sofrida e ela achava que a arte tem dessas coisas, é preciso sofrer antes de pintar. E mais que sofrimento a Frida tinha o sabor forte das pimentas mexicanas. Essa é a justificativa pelo uso das pimentas enquanto cozinhava, pensava Maria.

O vento que compõem a vida levou Maria para outro rumo, e não era aquele dos pincéis e do multicolorido das tintas. Acabara por casar com um amigo de infância e tivera com ele dois filhos, eram meninos. Maria seguiu esse caminho e não se incomodava com ele até o dia que o seu mais novo resolvera reclamar da pimenta da sua vida. Esse era o equilíbrio. E foi quebrado.


A senhora agora quarentona estava a chorar. E chorou por horas seguidas. Queria a pimenta, os pincéis, as tintas e o direito de sonhar novamente. Mas a vida é assim. E depois das lágrimas pegou a espoja e terminou de lavar as panelas que usaria para cozinhar o almoço naquela manhã. Ela usou o sabão.  

Thays Teixeira
Da Redação de um jornal.



sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A poesia alheia que eu roubei dos muros

A cidade está ali sempre frenética. Os sons que ela cultiva não são dos mais belos, como os produzidos pelos grandes alemães. Mas ainda assim bonitos, ao seu jeito. Nesse movimento a cidade compõe a sua música diária e há os apaixonados por esse som desconexo e com notas musicais um pouco tortas.
Mas eu não quero falar do som da cidade, eu quero falar do silêncio. Das composições que não fazem barulho, que em muitos momentos passam despercebidas pelos citadinos. O que está escrito nos muros da cidade? É essa poesia aí que eu quero roubar. O motivo é justo, poder contar um pouco sobre as ruas que eu vejo e as doces frases que leio e algo sobre as pessoas.
Vi certo dia, perdida, já quase apagada: “Eu quero gritar na próxima esquina”. E naquele dia gritar na próxima esquina me seria bem satisfatório. Iria desatar o nó que estava na garganta e o peso das atividades que me consomem diariamente. Vamos gritar? É o que estão nos pedindo. Vamos!
E a janela do ônibus que eu costumo pegar para ir ao trabalho continua a me revelar outras celebres estruturas poéticas. “Vive e luta. Essa luta é para valer”. Que valor? O do preço, como nas mercadorias que compramos, ou para valer a plenitude de uma vida? Pela revolta das letras e a forma como estavam dispostas eu imagino que seja por dias melhores mesmo. Olha só, a cidade cobrando por seus dias mais doces, para que ela não sofra tanto e que suas mazelas um dia possam se apagar como a tinta com que se escreveu a rebeldia dita mais acima.
Ora está certo “Teresina é linda, não é cinza”. A cidade não quer mais ser cinzenta ela quer a poesia. E o verso urbano é no sentido de conviver com os desafios da posteridade sem perder de vista o passado. Há também poesia nos prédios velhos, nos cantos das casas, nas esquinas onde alguns já se divertiram ensandecidamente e esse tom realmente não é cinza. Lindo é com certeza.
E se a poesia dos muros ainda assim não for suficiente a gente pode deixar os recados dependurados com pregos nas portas. Um deles dizia assim: “Correspondência, entregar na janela”. O senhor carteiro vai lembrar certamente das histórias de amor dos livros de Shakespeare. A doce literatura de receber cartas pelas janelas. É certo que muitas delas serão contas. Mas nada é tão perfeito, como um amontoado de palavras escrita por alguém romântico, ou o gênio inglês.
Vendo assim, eu noto como eu me enganei ao dizer que os versos dos muros eram silenciosos. Eles são mais barulhentos que as buzinas em horário de trânsito intenso. A diferença é que esse som vivaz pode tocar apenas o coração de alguns mais atentos que resolvem olhar pela janela enquanto cruzam um via qualquer, em um canto qualquer. E aí, vamos rabiscar o muro alheio? Pode ser um "Atalho para a liberdade". 

Foto: Kelson Fontenele

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

As surpresas da vida vem em pastas cor-de-rosa



Thays Teixeira

Em uma manhã de segunda-feira a minha turma (primeira)de mestrado recebeu um singelo e-mail. Nele constava uma homenagem, e na minha opinião, a mais despretensiosa e surpreendente que eu vira nos dois anos do curso. A turma possuía dez alunos e sendo nove mulheres e um bendito fruto, homem. Por causa dessa peculiaridade o tom é marcante.

A mensagem chegara um dia depois da reunião de despedida da turma que, tinha acontecido na casa da Renatinha. E ela veio como um vento avassalador que derruba tudo que está a nossa frente. O que caiu? Caíram as fortalezas que nós carregávamos e derrubou toda a força que julgávamos ter depois que, oito de nós havíamos defendido as famigeradas dissertações. Que força que nada! Estamos mesmo é com muita saudade dos primeiros dias, de todos os planos que fizemos, dos sonhos que a gente pensou e dos congressos que queríamos ir.

Muito disso nós cumprimos, os nossos currículos estão gordinhos e os nossos álbuns no face cheios de lindas fotos revelando lugares, sorrisos e conquistas. Mas tudo isso chegou ao fim e seguiremos separadamente, ainda com sonhos e com muitos caminhos a percorrer. Mas eu levarei...

Levarei do Américo todo o carinho de alguém que soube adivinhar todas as vezes que eu precisava de apoio. Ele sempre tocava o interfone e dizia “Olá, amiguinha!”. Da Adriana eu levarei o compromisso. O compromisso do cuidado com os amigos, se sempre ajudar com algum grande de desafio e de carinhosamente apelidar o seu carro de Rodoviária, porque ela sempre estava disposta a dar carona. E ela sempre me falava “lá minha periferia”. Da Cássia eu vou levar uma inteligência enigmática e a genialidade. Ela sempre dizia “bicho, eu to falando sério”. Da Edienari eu levarei a força de escrever sobre algo que poucos conhecem e a capacidade de construir conceitos. Ela sempre me dizia “e as zamigas”. Da Jennyfer eu levarei a superação e o poder de alcance, a linda sempre está a frente do tempo e conseguindo o que deseja. Ela sempre dizia “ só que não”. Da Marcela eu levarei as múltiplas capacidades, ser tudo e ainda ter o título mais lindo do mundo, do riso ao grito [isso define a pós-graduação]. Ela sempre dizia “tenho que ficar com o Arthur”. Da Núbia eu vou levar a doçura e os lindos desenhos que ela faz, inclusive de mim mesma. Ela sempre dizia “ai meu Deus, eu estou nervosa”. Da Renata eu vou levar a simplicidade e a coerência, qualidades de poucos humanos. Eis que ela sempre dizia “ai eu vou ter que assistir a novela”. Da Samária eu levarei mais que uma divisão de orientação, eu levarei a paciência e a entrevista mais linda que eu já vi na vida com seu João Claúdio Moreno. Também levarei a docilidade com que uma mãe pode criar alguém.

Optei por levar e descrever os pedaços de vocês em ordem alfabética. Cada um deles, como diz o Kundera tem o peso e a leveza de uma pena. E como uma pena pode ser densa! E assim como a pasta da Fátima que é cor-de-rosa e carrega as nossas atas de defesa, o meu coração tem a mesma cor, mesclado pelo multicolorismo de todos vocês. Estou com saudades, e queria todo o lado bom de novo.

Um milhão de beijos, que são melhor que vaga-lumes.

Amo-os

Thays ….

PS: A Homenagem da Fátima

HOMENAGEM À PRIMEIRA TURMA DO MESTRADO EM COMUNICAÇÃO DA UFPI
(P/ Fátima Melo – Técnico-administrativo / PPGCOM)

Olá meninas (como sempre as chamei), bom dia!
Sexta-feira, 13 de setembro, Edienari defendeu sua Dissertação, a antepenúltima na sequencia das defesas da primeira turma. Hoje eu estava lembrando de uma observação que a Tahys Helena fez aqui no PPGCOM, na véspera da sua defesa. Foi mais ou menos assim: “ logo, logo, esta listagem de mestrandos da primeira turma sairá deste mural”. É verdade. A substituição de vocês por outros/as acontecerá sem que a gente se aperceba. São as transformações que a vida vai nos impondo, à proporção que vivemos e realizamos. Vocês passaram por aqui, inaugurando uma fase muito desejada pela UFPI, em especial pelo CCE/docentes do Departamento de Comunicação que teve, e continua até hoje, contando com a minha colaboração. Nessa condição, eu não poderia deixar de parabenizá-las pela determinação e conquista. Não ministrei nem uma disciplina, mas convivi cotidianamente, durante esses dois anos, com suas vidas acadêmicas de mestrandas. Talvez, vocês não tenham a ideia de quão grande é o envolvimento da atividade técnica com os discentes. É porque nosso trabalho é solitário, é silencioso, motivo pelo qual, é quase imperceptível e as vezes, pouco valorizado. Quero parabenizar a vocês, em especial, por terem concluído o curso no tempo que a CAPES lhes concedeu. É muito bom para nossa avaliação. E quero comunicar-lhe que lhes fiz uma singela homenagem. A primeira pasta de atas do PROGRAMA, em que estão arquivadas as atas das defesas de vocês, bem como das próximas turmas , é COR-DE ROSA, em homenagem a essa turma, quase cem por cento feminina. COR-DE-ROSA sim, demonstrando a leveza, a garra, a determinação e o romantismo (por que não), desse gênero que sabe o que quer e faz a coisa acontecer. PARABÉNS MENINAS Adriana, Edienari, Jennyffer, Marcela, Núbia, Renata, Semária e Thays! E boa sorte nas próximas etapas de suas vidas. Abraço, Fátima/PPGCOM.





sábado, 24 de agosto de 2013

Morfina para a vida?

Todos nós já ouvimos alguma história absurda sobre o sistema de saúde brasileiro, ou de algum mau atendimento vivenciado junto a médicos, ou outros profissionais da saúde. A questão da qualidade do atendimento tomou uma dimensão maior ainda depois do anúncio do programa Mais Médicos pelo Governo Federal. A classe médica questiona a validação dos diplomas dos médicos estrangeiros e exige que isso seja feito de modo tradicional, já o governo alega que os profissionais brasileiros preferem não trabalhar no interior país, por isso a contratação dos “gringos”, no objetivo de atender esta demanda.

A questão é mais problemática do que a dicotomia entre classe e governo, e o que cada um quer. Uma coisa é certa, o sistema de saúde do país é precário e falta atendimento de qualidade em qualquer canto: centro urbano e interior. Raros as ilhas de referência em saúde, um ou outro hospital em poucos estados e perdidos na imensidão de filas de pacientes que esperam por sua vez e atendimento. Não é possível balizar a qualidade da saúde por estas ilhotas.

No geral, o brasileiro passa horas para ser atendido, e quando é encontra plantonistas esgotados e uma recepção - que na maioria das vezes - os deixam pior, de tão lamentável que é. E não é apenas culpa dos profissionais que esquecem a tal da educação moral e cívica em casa, antes de começarem o seu longo dia de trabalho em um hospital. É também do governo que esquece que atendimento em saúde não depende apenas de pessoas, mas também de equipamentos que garantam o necessário para que aquele profissional possa efetuar seu trabalho. É um problema estrutural.

Os cursos universitários ofertam disciplinas de sociologia da saúde para tentar lembrar aos futuros profissionais que pacientes não são clientes, ou seja, um negócio. Que humanos precisam ser tratados como tal e os alunos, no geral, odeiam essas cadeiras. “Não nos leva nada saber uma besteira dessas, isso não vai salvar vidas”, dizem alguns. E os gestores públicos parecem acatar ao pé da letra afirmações como essa e falta investimento em humanização da saúde.

Caros, morfina não é eficaz para curar nada. Ela é servida aos pacientes com dores extremas para aliviar o sofrimento. Esse embate entre os defensores do programa Mais Médico e a classe médica, remói o antigo e vivo problema na saúde brasileira, é um sofrimento extremo. São dois lados com revindicações válidas, é preciso que os médicos cheguem ao interior, mas que eles não cheguem sozinhos. Que venham com máquinas de raio-X, com UTI’s, com equipes, com medicamentos básicos e com tudo o que é preciso. Do contrário, só estarão servindo a nós morfina para prolongar a vida.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O poeta curitibano me acordou

Hoje eu acordei cedo e abri o livro de poesias que estava sobre a cama, ele havia ficado lá. Dormi sem perceber.
Por um lindésimo de segundo 
     tudo em mim
anda a mil
     tudo assim
tudo por um fio
     tudo feito
tudo estivesse no cio
     tudo pisando macio
tudo psiu

    tudo em minha volta
anda às tontas
    como se as coisas
fossem todas
    afinal de contas 
E foi assim que o tal, Paulo Leminski resolveu me acordar.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Calorina

Gota serena, serena! Com o frescor dos teus pingos esse fogo vai simbora. Teresina é menina cheia de calor, e no B-R-Ó- BRÓ fica com o fogo da gata. Coisa da idade.

Thays Teixeira
Teresina, 19 de agosto de 2013

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O sambista e o perfume

Depois de passar mais de cinco vezes em frente ao mesmo barzinho, as amigas decidiram entrar, custava apenas 10 reais. Aquela noite prometia muito samba, era uma quinta-feira, era na Lapa. Duas cervejas e uma caipirinha, apenas isso para termos certeza que a alegria iria imperar naquele dia.

Em meio a um SMS, que ficou pelo caminho, e seria enviado a uma amiga, um cheiro suave e expressivo chegou e me roubou para dançar. Daí tudo mudou e os meus pés que não eram muito bons com a dança, rapidamente inventaram de acertar os passos para entrar no samba. E lá estava a pleno vapor e no ritmo dos sambas tradicionais e dos sambas enredos comuns na rotina da carioquíssima e boêmia Lapa.

Mas o perfume, ah o perfume, ele era suave como a brisa que chegava pela porta a cada parada entre uma música e outra. Um cheiro marcante como os sons dos instrumentos que compunham a roda de samba que animava aquela casa de shows. E não podia ser diferente, a vida nos levou a uma sequência de experiências sensoriais que marcariam a memória por horas e horas, dias e dias, propositadamente para sempre. Esse é o papel da saudade, deixar um cheiro.

Aquela noite chegou ao fim, pegamos o táxi e chagamos na Glória. O cheiro do sambista veio junto, estava impregnado na roupa, da mesma maneira na memória. Junto com ele chegou uma delicada mensagem que carinhosamente dizia: foi bom conhecê-la, foi muito legal dançar com você, quero mais! O quero mais era tão compartilhado que mesmo com muito sono a ansiedade pelo outro dia atormentava a dormida. O cheiro, mesmo com o banho, insistia em permanecer, e as pernas depois de muitos rodopios estavam marcadas pelo desejo de continuar também.

Os dias que se seguiram foram à mistura perfeita de samba e perfume! Na realidade de músicas e perfumes. O jovem sambista me roubaria todas as noites seguintes até que aquela viagem chegasse ao fim. E quando a hora chegou à vontade de repetir tudo de novo insistia em permanecer. Ele me fizera sorrir, me fizera dormir pouco, me fizera andar pelo calçadão de Copacabana, me fizera sentir frio só pra eu pedir vários abraços. Tudo isso me fazia querer de novo, e de novo.

No fim dessas linhas eu acho que o cheiro do sambista, seu sorriso alegre, seus passos avassaladores pelo salão insistem em me acompanhar. Ele parece que está bem ali, e que a viagem não chegou mesmo ao fim. Eu tenho a leve impressão que ainda estou usando o meu chapéu panamá e estou preparada para mandar uma mensagem e novamente aquele cheiro vai me tirar para dançar. Cadê?

A saudade é como molho agridoce

O grande rei do baião disse uma vez: “a saudade amarga que nem jiló”, mas o mesmo gênio da composição musical nordestina afirmou também que este sentimento pode ser bom. E nessa linha tênue entre o bom e o ruim a saudade movimenta a vida de muitas pessoas, de todas possivelmente. Quem nunca sentiu saudade daquela velha roupa que viu outro dia em uma foto antiga? Quem nunca sentiu saudade daquelas brincadeiras da infância que nos deixavam sujos como o quê? Quem nunca sentiu saudade daquele primeiro amor, ou de um doce familiar que se foi? Quem nunca?
            São tantos quem e tantas velha lembranças, que temos vontade de lacrimejar só em pensar que foi bom viver muitas dessas coisas. Mas também sentimos vontade chorar todas as vezes que lembramos que algumas delas foram dolorosas e tristes. A saudade se configura nesse entremeio de  coisas que não podemos mensurar, nem quantificar mas sabemos que estão ali ou que já estiveram em algum momento de nossa história. E porque esse sentimento é tão presente em nós? Seria mais fácil não lembrar, não ter vontade de reviver, ou de sentir muitos desses momentos. Seria, mas não é assim que a vida gira.
            O que temos é esse principiar e fim, é esse monte começo e monte de finais. As coisas da vida parecem mesmo últimos capítulos de novelas, onde paramos para ver e nos empolgamos com as formas que as façanhas e vivências terão, queremos saber como findará. E esse desejo de fim se une com aquela ganancia pelo botão de resetar, que nos garantiria a possibilidade de começar tudo de novo. O botão reset que está presente apenas nos vídeo games não foi dado para a humanidade. Nós humanos no máximo conseguimos inventar para nos próprios as memórias e junto delas a valiosa saudade.
            Hoje  é o dia de um bom samba igual aquele que dançamos na última semana, em que  viajava com uma amiga. Na realidade hoje é o dia de ir ao samba, contudo somos nós que não estamos mais lá, naquela cidade animada que tem dias onde se toca apenas samba. Somos nós que pela necessidade de sentir saudade partimos para a nossa casa e deixamos os outros amigos, que certamente estarão naquele bom samba, logo mais a noite. E nós que não poderemos estar presentes ficaremos com aquela sensação de que estaremos perdendo algo, perdendo mais que bons passos pela gafieira, estaremos perdendo um bocado de sorrisos.
            Deve ser mesmo por que vamos perder os sorrisos de outrora, que vivemos por sentir saudades. Quando lembramos daquela velha roupa, ou daquele namoradinho de outrora, ou das brincadeiras,  ou do samba da última semana, estamos mesmo é lembrando dos sorrisos que ficaram no passado, dos sorrisos que não podermos mais ter de volta. Sentimos a dor e a delícia de saber que eles estão lá. É o sabor agridoce da saudade, que é delicioso como o mel e amargo como o jiló do seu Lua. E mesmo assim a gente sempre está correndo atrás de temperar a nossa vida com esse molhinho.
          
            Sorrindo mais um pouquinho vamos caminhar pelos lugares, e pensar sempre que a vida é assim um conglomerado de começos ameaçados todos os momentos pelos fins que eles precisam ter e pela vontade de perpetuá-los.
          
            Vai repetir o prato, meu senhor? E posso saber se gostaria de um pouco mais de molho dessa vez?

domingo, 5 de maio de 2013

E do meio do nada chegamos a um Lugar Comum *


Por Thays Teixeira

Planejamos começar muitas coisas todos os dias. Alguns desses planejamentos se perdem nas horas que se encaminham e ficam por lá, nas encostas do tempo. Mas outros não, outros dão certo e a concretude é o triunfo, ou o trunfo. E nessa história diária de começar coisas e de não, é que ousamos. Ousamos ver amigos, ousamos conhecer pessoas, ousamos conversar sobre esses planos e ousamos executá-los. Na maioria dos casos é essa ousadia o catalisador.

Na tentativa de colocar em prática qualquer coisa e transformar a pasmaceira do cotidiano, você acessa uma rede social para tentar ter uma grande ideia e ver ousadias alheias. As ideias parecem que não vem mais do nada nesse ambiente cheio de coisas repetidas e milhares de vezes reproduzidas. As ousadias estão lá temos apenas que encontrá-las. Tudo já está imerso na premeditação dos planejamentos iniciais dessa história.

Numa dessas maluquices de querer começar algo, você pode conversar com um velho amigo e lhe contar um plano, que nunca imaginou que dividissem. Escrever quem sabe, e mais que linhas cômicas em uma janela de bate papo, essa é uma coisa a se fazer. Que tal colocarmos em evidência aquele velho plano da manhã? Vamos escrever como sempre pensamos? Ou, vamos apenas escrever. E assim o entusiasmo da ousadia chegou audaciosamente.

E corremos para que esse plano não ficasse encostado nas armadilhas do tempo. Percorrer o caminho da aprovação de escrever, disso ser útil e mais ainda de isso ser possível de publicar. Contatos acionados e autorização garantida. Com tudo teoricamente finalizado vieram os medos: temas, frequência de escrita, compromisso, aprofundamento, ego alimentado, remuneração inexistente, contar aos amigos e família, alegria. O projeto novo começou!

Complexamente, as coisas do dia têm formas peculiares de principiar e que bom que tem. Do contrário, tudo seria uma permanente repetição e não fugiríamos do mito do eterno retorno de Nietzsche, se bem que, é legal pensar que tudo pode voltar outra vez, só não precisa ser igual. Nestes tempos, deve ser um pensamento assim que nos coloca a procura de novos projetos em meio às redes sociais, nas telas acesas e frias de um computador, ou algo semelhante. Deve ser o desejo de retomar algo, com feições de novo e um delicado sabor de plano repetido que nos coloca a prova.

Que ideal filosófico! Algo tão lugar comum, só pode começar mesmo de um simples plano de escrever e de publicar fora de uma página cheia de amigos selecionados e aceitos. E planejar coisas diariamente mantém o mesmo sentido da ideia comum de contar histórias de coisas e pessoas. A forma é tão aleatória que do meio do nada chegamos ao Lugar Comum de escrever, ou de tentar alinhar palavras. Talvez essa seja mesmo a perspectiva dos planejamentos: fazer com que coisas repetidas tenham cara de novas, cheiro de velhas e sabor de ousadia.

*Texto originalmente publicado no Jornal O Dia (Teresina - Piauí), em 04 de maio de 2013, na coluna Lugar Comum

segunda-feira, 18 de março de 2013

Confidente

É quarta-feira e o sol já está se pondo. A moça dos sapatinhos coloridos não consegue esquecer em nenhuma semana esse momento, lembra como eram felizes as quartas-feiras de outrora. Além das lembranças, ela só tem o telefone e o endereço de email. O máximo que consegue de felicidade é aprender uma palavra nova, em manhãs tristes e quentes de verão.
Thays Teixeira
Miguel Alves, 17 de março de 2013.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Em casa de ativista....


Laura usa lentes azuis e não pega sol para deixar a pele mais clara. Pinta o cabelo de loiro e alisa. Posta inúmeras fotos com maquiagem em tom mais claro para parecer caucasiana.

Sua irmã Luka, uma ativista dos direitos étnicos, acha que tudo isso é uma opressão e que pessoas com esse comportamento não tem o poder de escolha e são controladas pelo sistema.  
- É a ditadura europeizante! Diz ela.

No entanto, Luka não reconhece esse comportamento em Laura. Argumenta que a irmã é fashion e despojada. Isso porque ela faz curso superior e diz entender das leis. Se ela morasse numa favela e tivesse baixa escolaridade o discurso talvez fosse outro.

Miguel Alves, 20 de fevereiro de 2013.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Até a próxima



Olhando extasiada todas as mais de 90 mil pessoas que passavam percebeu porque as suas pernas doíam, eram passos intermináveis e queridos sorrisos. Hoje carrega o peso das cinzas e  as lágrimas pela morte de mais um amor: o carnaval.

São Luis, 13 de fevereiro de 2013

Thays Teixeira

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Desejo

A moça era ansiosa. E por ser filha única estava acostumada a ter tudo sempre que desejava. E o que ela queria agora estava próximo pelo bate-papo mas distante do seu corpo. Quase enlouqueceu com as mãos.
Miguel Alves, 22 de janeiro de 2013
Thays Teixeira

sábado, 5 de janeiro de 2013

Classe subalterna


Ícaro sabia do significado de seu nome e o odiava. Mas isso parece que o perseguia. Todas as vezes que tentou o seu lugar ao céu, a cera derretia e ela caía estatelado no chão.
Thays Teixeira
Miguel Alves, 04 de janeiro de 2013

Narcisismo


Fernando descobrira frequentando as aulas de Epidemiologia, que a tradicional brincadeira de cinco contra um, é a mais segura das formas de amor. Agora, ele não para de pensar em si, quer logo se pegar.
Thays Teixeira
Miguel Alves, 04 de janeiro de 2013

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Invisível..


Luis nunca entendeu ao certo porque passava noites a fio conversando com Helena. Ele não a via fazia alguns anos. Mas ela era de fato um espírito presente, e sabia muito sobre sua vida. Os segredos mais sórdidos. Ele a quer, agora.
Thays Teixeira
Miguel Alves, 04 de janeiro de 2013

Consumida


A chuva se foi. Mas parece que ela levou consigo todo o poder de escolha da jovem Camila. Logo ela que sempre tem tudo meticulosamente calculado em sua vida. Azul ou amarelo, não conseguia escolher os sapatos que melhor combinassem com seu novo vestido Prada.
Thays Teixeira
Miguel Alves, 04 de janeiro de 2013.

Um coitado


O que Ana queria mesmo era dormir de conchinha com o seu atual amante. Mas as convenções a obrigam a deitar-se com Lúcio. Ele mal consegue levantar a perna para pôr os chinelos, o que dirá aquilo que esposa tanto almeja.
Thays Teixeira
Miguel Alves, 04 de janeiro de 2013

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Presságio


- Se tudo que você vive, ou realiza é uma experiência antropológica. Então, quando alguém ousa analisar discursos alheios é fofoca literária. A tal moça loira, Meama, pensa assim. O que será mais que ela confabula?
Thays Teixeira
Miguel Alves, 03 de janeiro de 2013.

Coincidência

Ele sempre que me via chamava o mesmo nome. Eu olhava desconfiada, mas seguia em frente. Até que um dia, já desesperada em curiosidade, parei.
- Não sou essa tal Flor, senhor!
E ele respondeu.
-Sou cego, senhora.



Thays Teixeira
Miguel Alves, 03 de janeiro de 2013

A bunda

Há dias não ouvia Radiohead. Lembrou que não pode ficar muito tempo sem cumprir seus rituais alucinógenos. E junto com a música pensou:
- Vou já comer!
Mas ele quem foi comido.
Thays Teixeira

Miguel Alves, 03 de janeiro de 2013