sábado, 31 de maio de 2014

Ápice

Juju sempre gostou da sua excentricidade. Ela costumava ver filmes pouco populares, ouvir música concreta – daquelas feitas com balões e da sua aparência branca sem vitamina D. Passava longe do sol e se orgulhava disso. 

- Sempre fui notívaga, dizia furtivamente.

Mas ela tinha uma janela no quarto. Por ela o mundo inteiro passava e isso lhe bastava, ou parecia bastar. Juju certo dia, olhando pela janela, percebera que nunca conseguira manter um romance por muito tempo, a não ser o que tinha consigo mesmo todas as noites. Este durava anos. Ficou se perguntando por quê?

- Será pela minha excentricidade e gosto? Ah, mas se for por isso, não vou mudar. Gosto-me assim, pensava. – Construí-me assim, continuava.

O que Juju não percebia é que em romance não há regra. E até há, a exclusividade – contrato nunca obdecido, diga-se de passagem – e seguiu a raciocinar sobre o fato de estar só novamente. Porém, naquela noite ela não estava tão só assim e enquanto amava pensava, pensava e pensava. Só parou quando o corpo não resistiu e chegou ao ápice.


Foi quando se deu conta que o romance mais duradouro na vida de qualquer um é o ápice. 

Microconto: Posição matemática

Dois e dois estão de quatro