quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O FIM DE UMA ESTRUTURA

O dia que eu pensei que nunca chegaria, chegou! Deus, o fim da vida é para todos, até para aqueles que parecem imortais. Um grande nome da antropologia mundial se despediu dos “selvagens” no dia anterior em que se comemora, pelo menos no Brasil, o dia dos mortos.

Impressionava-me com o fato do autor da Teoria do Estruturalismo já estar no centenário e mesmo assim com a virilidade do início do século 20, quando ele ainda estudava os mitos e o parentesco. Construiu em toda sua vida uma teoria conflitante, que considerava as sociedades humanas estruturadas e que possuíam um tronco comum, mesmo variando as culturas. O homem que ousou falar que todas as sociedades abominam o incesto, que todas as sociedades possuem o átomo do parentesco, não ousou dizer que faz parte da estrutura, se esvair.

Nunca o vi em carne e osso, nunca escutei sua voz, nunca senti seu cheiro ( se é que ele tinha algum, talvez esse cheiro fosse até forte ele era um francês), o mais próximo que cheguei deste gênio, foi das linhas traduzidas para português, do que ele escreveu. Tantas leituras, muitas repetidas, para compreender o raciocínio e a lógica dos ensinamentos dele. Por causa disso quantas vezes eu já disse “morre, pelo amor de Deus e para de escrever coisas que deviam ser ditas em diários” só porque não entendia o que ele escrevia. Conheço pessoas que até sonharam com ele antes de apresentarem um seminário. Mas o implacável é implacável para todos.

Logo depois do almoço meu telefone tocou, e era Denise, uma amiga que assim como eu pensava que ele nunca morreria.
_ Thays, tu não acredita! O Lévi-Strauss morreu!
_ O quê? Não acredito
_ É serio, saiu no G1.
_ Agora deu vontade de chorar, pensei que ele nunca morreria.

E não tem jeito, a morte chega para todos, até mesmo para que aqueles que pensamos que imortalidade se instala automaticamente sobre seus corpos. Os seus pensamentos serão eternos, seu corpo mesmo ritualizado pelos Bororo se foi, um dia antes a comemoração dos mortos, nada mais antropológico para alguém que nem merecia partir. E literalmente o mundo começou sem ele e vai terminar sem também.

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