domingo, 27 de novembro de 2011

Todo dia é pleonasmo

Por Thays Teixeira

            Gosto do cotidiano. Muitos reclamam que ele é o responsável por entediar a vida. Eu discordo, e radicalmente. Entendo que por trás, do “todo dia ela faz tudo sempre igual”,  como diz o Chico, existe uma sincera beleza, talvez eu tenha aprendido a compreendê-la, escutando essa canção. É da simplicidade que eu gosto, e o simples, nada mais é que um cotidiano. 
            Não é porque se faz algo todos os dias que ele perde o encanto e a boniteza. Sem duvidas essa cobrança excessiva pelo diferente, uma novidade a cada segundo é uma questão econômica, um raciocínio devorador, consumista. Levantar-se, tomar café, sentindo o gosto suave do grão, pegar um ônibus e observar o colorido das faces, o som e a multiplicidade das vozes e palavras.
            Imaginar os significados. Tentar entender diariamente porque existe uma cobrança para que a teoria domine a realidade, quando na verdade essa não é a intenção dela , ler milhares de livros, buscando respostas que nunca virão. Isso é lindo, é desafiador, e é todo dia.
            Parece que o cotidiano é pequeno, mas não é. Talvez, melancólico por ser igual, ou próximo. Já diria o alemão Marx os fatos históricos são únicos, por isso que o cotidiano me comove, está inserido nessa categoria de nunca se repetir demasiadamente da mesma forma, de ser assim como os fatos. Acho que estamos perdendo a capacidade de nos comover, a falta dela pode ter deixado o cotidiano sem brilho. E nós seguimos ficando sem .....enxergar que o simples todo o dia é mergulhado no belo, se pararmos e percebermos, os olhos até brilham.
            E eu? Eu não tenho medo de viver, só tenho medo de não saber viver!
                        

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

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A cidade da hastag: #esperança

Por Thays Teixeira

            Na língua portuguesa existe uma figura de linguagem que troca o nome próprio de lugares e pessoas por adjetivos que lhes caracterizam, é a perífrase. A cidade do Rio de Janeiro tem um desses apelidos conhecidos, a cidade maravilhosa. E com todos os motivos do mundo para receber esse título, o lugar é realmente impressionante e lindo. Mas eu diria que este não o único apelido que o Rio de Janeiro mereceria ganhar.
            Com as novas modalidades de contato e comunicação, as redes sociais, surgem novos vocábulos que identificam campanhas, pessoas e locais e que se tornaram febre pela internet, são as hastags. Com o twitter elas agora são acompanhadas pelo famoso # e se popularizaram até tomar conta das ruas. Das ruas do Rio de Janeiro. Agora a cidade maravilhosa é a cidade das hastags.
            Umas são bem populares como #geraltásabendo #étrocador #bissscoitoglobo ou outras que não são famosas mais arrancam risos dos meus amigos como #idiotinhasdaLapa ou #eutômuitofeliz.. E sim é quase unanimidade que, os cariocas tem palavras feitas para descrever determinadas situações, geralmente eles falam palavrões. Adoro palavrões! Mas são essas coisas que encantam no Rio, é o seu povo, o jeito deles, é carinhoso e hospitaleiro. Dá saudade, saudade das pessoas.
            Na minha ultima viagem a cidade das hastags eu conheci uma pessoas dessas que merecem virar hastags, ela se chamava Sandra. Estávamos dentro do ônibus 384 que faz o itinerário Centro-Jacarépagua, sem trânsito pelo menos uma hora, mas não foi o caso e acabamos por conversar mais de duas horas. Cruzamos toda a linha amarela, atravessamos Cidade de Deus, vimos o teleférico do Complexo do Alemão e muita gente subiu e desceu. E eu como sempre não sabia exatamente em que parada descer, ou como eles dizem por lá ponto, tratei logo de conversar para não me sentir perdida. E que bom que eu conversei.
            A Sandra tinha cursado Serviço Social na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói e agora era empresária. Quanto eu aprendi com ela! Mas não pelos conhecimentos que poderia ter passado com o seu curso, ao contrário, aprendi a ser um pouquinho mais gente.  Ela como a maioria dos cariocas foi gentil e delicada ao explicar que eu não precisava me preocupar que daria tudo certo.
            A partir daí começamos um bate papo que me revelou uma pessoa lutadora, com sonhos e que ainda tinha esperanças quanto à política brasileira, assim como eu as tenho, mas que não se iludia esperando milagres do poder público. Continuava a lutar por seus dias melhores, que lindo!  Me falou encantada do seu Rio de Janeiro e do que gostava na cidade, falou que gostava de arte, música, e observou ....
            Comprou balinhas Mentos da cor vermelha dentro do ônibus e eu preferi as verdes. Kkkk! Eram de cereja e maçã-verde. Sempre troco os sabores pelas cores.
            Mas nas conversas como sempre falei muito e também falei de mim, dos meus sonhos, vontades, das coisas que tinha desistido de fazer e ela ouviu atentamete e respondeu: não desista, comece de novo até darem certo, e o faça desejando o melhor para você e para os outros, eles aconteceram. Foi um estímulo para ser feliz!
            O olhar de quem estava no ônibus para a gente era como se eles achassem que nos conhecíamos há anos e nao há minutos, como de fato. Foi muito divertido! Inclusive quando ela foi embora eu rapaz perguntou: E vocês não andavam juntas? A nossa despedida foi tão veloz quanto para nos conhecer-mos, ela anotou seus telefones, e email no bloco de papel que sempre carrego comigo e quase que não consegue descer no ponto certo. Os números deram certo, mas o email ela anotou tão depressa que deve ter faltado alguma letra. Uma pena!
            A Sandra é o tipo de pessoa que a gente gosta de graça, mesmo tendo possibilidades de nunca mais vê-la, com certeza ela já faz parte da minha lista de pessoas, que eu ser pelo menos parecida. Acho que era o sorriso dela que passava a tranqüilidade, uma paz! Para minha ela é #mulherdeluz, que me disse um dia  me disse que eu deveria fazer teatro.... e eu lhe digo que ela virou minha hastag a : #esperança!

sábado, 12 de novembro de 2011

Sai pra lá, Lei de Murphy!

Arrumar as malas é sempre um desafio quando pretendemos viajar. Aquele medo de esquecer algo que nos será valioso mais a frente acompanha os pensamentos quando colocamos cada pecinha no seu devido lugar. Pode parecer “monkisse” [pleonasmo referente ao personagem Adrian Monk, do seriado Monk – um detetive muito estranho, por causa dos seus hábitos peculiares de organização], mas é bem prático escrever uma listinha com tudo aquilo que você coloca na mala. A seqüência de palavras faz você lembrar-se do que está esquecendo, se faltar algo, e na volta é preciso apenas conferir que o que você colocou na ida está tudo dentro novamente. Confesso, faço isso!
            Mas porque comecei falando desse hábito, um tanto quanto diferente? É que na ultima viagem eu não pude cumprir a risca a minha lista! E não porque eu tenha desaprendido a ler, ou porque tenha adquirido alguma deficiência e não tenha feito versões da lista em padrões de acessibilidades. Nada tão drástico. Apenas, a pobre coitada da minha câmera fotográfica que me foi furtada e se configurou como item ausente da minha pobre listinha.
            Em outros tempos eu teria ficado transtornada por causa dessa perda, teria corrido diretamente para uma delegacia para registrar a queixa, mas num fiz nada disso. Afinal, eu não teria minha câmera de volta, perderia toda a minha noite ao som do bom samba carioca na Lapa e também teria perdido a oportunidade de conhecer as três personagens dessa história.
            Como pela racionalidade lógica as coisas começam pelo começo, eis o primeiro dos cavalheiros, ele atende pelo nome de Robin. Um típico sueco: caucasiano dos olhos azuis, que como a maioria dos gringos tinha uma dificuldade tamanha de sambar. Ele até que se esforçou, mas ficou só nisso mesmo, e deve ter terminado a sua noite em alguma farra pelas bandas de Botafogo com as moçoilas que o carregaram para distante da roda de samba. E esta que vos fala voltou a junto da sua anja-amiga que estava com a mãe passando mal. Tínhamos que ir embora. Ah! Ia esquecendo, a pobre da anja-amiga também entrou na rota dos furtos e teve a sua carteira bandeada para a bolsa de outra pessoa. Que noite traumática! Antes de tudo isso já tinha perdido o ensaio da Vila Isabel! Parecia que tudo seriam percas! Sai para lá, lei de Murphy!
            E ela saiu mesmo! Aí entram os outros dois personagens. Para chegarmos a Lapa pegamos uma Kombi (aqui no Piauí a gente chama de bestinha), nela vinham dois rapazes que também iam para o mesmo local onde estávamos. No meio do povo, me aparecem dois loucos gritando...  – Ei vocês estavam na Kombi! Gargalhadas, foi aqui que elas começaram. A gente respondeu que sim.  – Porra! Elas tavam na Kombi, ei a gente ta indo embora o Marcelo vai passar umas 04h10min, vamos! Óbvio que esta era uma maravilhosa notícia. Uma pessoa passando mal, não teríamos que pegar dois busão para voltar. Ora se não vamos! E fomos.
            A partir daí eu perdi as contas de quantas vezes eu sorri, ouvi a expressão #eutômuitofeliz em alto e bom som e vi esta mesma figura descendo da Kombi gritando chamando passageiros, e dançando em plena Central do Brasil (a estação)! Detalhe: essa era a primeira vez que eles tinham pegado essa Kombi, e não eles não conheciam o Marcelo - o motorista -, tinham pegado o telefone dele na ida. Uma piada só esse moço, cujo batismo lhe reconheceu como Rodrigo. Pelo que pude ouvir, quando ele não estava dizendo que paquerou muitas gringas e que tinha levado fora de todas mesmo sendo muito bonito, ou quando não gritava #eutômuitofeliz é que ele cursava educação física, iria fazer o exame do Enade naquela tarde, que iria cursar Medicina mais a frente e que já tinha jogado futebol profissionalmente pelo Internacional de Porte Alegre e em outros times dos quais o nome não me recordo, acho que o América também. Toda a sua história de vida, que eu pude saber naquelas poucas horas. Além disso, ele ainda demonstrou ser apaixonado, pela ex-namorada, uma dor de cotovelo num sei, algo do tipo. Mas o que quero deixar claro mesmo é que ele é um excelente cobrador (trocador) de Kombi consegui lotar, berrando os itinerários, rodovias a fim, o que arrancava risos, até de quem vinha passando mal desde a Lapa.
            Como os loucos não costumam andar só, esse levava a tira colo, o amigo, cujo nome é estrangeiro Patrick, igual ao do ator que fez Ghost e Eternamente Lulu. O Patrick daqui não fez cinema, mas trabalha com efeitos especiais e levava marcas do trabalho pelo corpo, queimaduras de explosão. Um profissional da Rede Globo que tinha sido o responsável pelos efeitos realizados pelo robô zariguim da novela Morde & Assopra. Para uma noveleira de plantão, isso era o máximo.  – Cara, tu fez o zariguim, que fofo! Quase morro emocionada. No entanto o que mais chamou atenção, no rapaz foi o seu auspicioso jeito de ser irônico e de contar piadas bobas. – Você gosta de água? Sim! Que bom porque 70% do meu corpo é feito dela. Só lembrando que eu só acreditei que ele trabalhava na Globo depois de ver o seu cartão do plano de saúde com a marca da emissora. Não! Ele não desceu gritando os itinerários como o amigo, mas comprou Skiny (o salgadinho), que ele insistia em chamar de Bisssscoito (sotaque carioca) e eu de petisco. Tudo se tornou motivo de piada, depois de tudo isso.
            #eutômuitofeliz virou clichê nas nossas conversas, e os acontecimentos tristes do início não afetaram o nosso desejo de continuar a diversão. O que aprendi com isso, foi que traumas sempre são seguidos de boas novas, e que tudo é uma questão de paciência, se não foi agora vai ser depois! Nem que seja pelo facebook.
            A minha câmera depois de tudo isso já nem importava tanto assim. E por causa da falta de uma imagem que não me foi permitida tirar optei por registrar esta louca história [mais uma vivida junto com a minha anja-amiga] por meio de um amontoado de palavras, que formam frases, e seguida de parágrafos que juntos viram um texto, que eu ainda insisto em chamar de crônica.
PS: Preciso fazer listinhas de viagens com versões para acessibilidade.
           




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Um passeio pela sertaneja Teresina

Caminhar pelas ruas. Um hábito tão cotidiano pode revelar muitas surpresas, e elas podem ser belas e encantadoras para os olhos. Nos cantos de todas as cidades é possível ver belezas escondidas, são detalhes artísticos que passam desapercebidos por causa da pressa de todos os dias. Que tal caminhar mais devagar e admirar a arte escondida nos cantos das ruas da sertaneja Teresina? Sejam bem-vindos ao passeio.

Teresina é uma terra de surpresas, contrastes e revelações. Teresina dá aos viajantes e aos seus amantes moradores, a impressão de ser um lugar onde duas épocas diferentes convivem juntas. Pessoas simples vindas do interior, com pouca intimidade aos modernismos do século 21 cruzam pelas ruas com gente vinda de todos os cantos do país e do exterior. Mercados de rua oferecem artigos típicos e sofisticados centros de compra o que há em tecnologia de ponta.

Nesse ritmo frenético os seus lugares mais conhecidos se tornam cotidiano. Mas por trás desse cotidiano, o escondido se revela, basta um olhar mais atento, aos pontos turísticos que marcam a história da Teresina, que completa seus 159 anos. História essa que já começou de um jeito diferente uma vez que a capital sertaneja do Nordeste, foi a primeira planejada do país.

A cidade que foi inventada tem o dom de se reinventar todos os dias e seu povo é ator dessas transformações e seus lugares mostram o resultado dessa simbiose. São prédios históricos, são detalhes, as esculturas, o artesanato , a engenharia, as pessoas. Todos escondem a arte e a cultura que é construída em Teresina, e que estão se remodelando a cada dia. E isso vale mesmo ser visto







O que está protegido pelos prédios históricos

A Igreja de São Benedito, construção do século 19, é um dos marcos mais conhecidos e representativo da cidade, e é difícil não reparar nela, tal sua imponência. Mas são seus detalhes o que mais encanta. Suas portas, obras de Sebastião Mendes, foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: são feitas de jacarandá e cedro, trabalhadas em motivos florais. A escultura do padroeiro, São Benedito em tamanho real, e a cruz em frente ao prédio enegrecida pela fumaça dos carros, carregam as expressões de fé, das velas queimadas pelos devotos.

Mas para encontrar outra beleza da capital piauense basta apenas descer as escadarias da Igreja de São Benedito e atravessar a rua. Um belo jardim, que circunda o palácio de Karnak, a sede do governo do Estado. Eles foram projetados por Burle Marx, depois de uma reforma do prédio na década de 70. A faixada do palácio é inspirada em um templo de Egito Antigo que recebe o mesmo nome.

São mais de 100 anos de muita história e espetáculos, e dos jardins do Karnak para lá são apenas alguns passos. O Teatro 4 de Setembro conserva uma fachada com arquitetura de inspiração portuguesa e detalhes greco-romanos. Os detalhes, esculturas da leões que ficam nos cantos do telhado, simbolicamente protegem os que entram por aquelas portas, tanto como espectadores como atores. Em frente ao teatro, está a Central de Artesanato. Mas que a arte local, feita por celebres piauienses, o prédio reserva um marco da memória do país e da cidade. Um calabouço do tempo da ditadura militar, que revela nas marcas de sangue, a luta de artistas e intelectuais que defendiam os diretos civis, em um tempo onde pensar não era permitido.

"Ai troca, quem troca, destroca, minha Teresina não troco jamais" eternizado pela música "Teresina", dos compositores piauienses Aurélio Melo e José Rodrigues, o Troca-Troca já faz parte do roteiro turístico da cidade. Situado às margens do Rio Parnaíba (é uma feira onde se comercializa de tudo um pouco, mas tem coisa lá de inestimável valor, as histórias dos teresinenses, que até aos domingos lotam o local. A música é um exemplo de como o que parece invisível vira arte, e com um magnifico tom. 

Lendas e devoção são motivos para esculpir

Quem nunca ouviu a história do jovem Crispim que vira o Cabeça de Cuia, quando resolve passear pelas margens do Rio Poti, enquanto se encanta com a maravilha do Encontro do Rios Poti e Parnaíba. Neste mesmo lugar está o monumento Cabeça de Cuia. Uma escultura gigante que conta a lenda mais famosa da cidade sem precisar de nenhuma palavra. Os olhos se encantam e o desejo de levar aquele lugar para casa, se transforma em um ponto ideal para fotografias.

As lendas que se mantem vivas porque são passadas pela memória oral e escrita, inspiram também os escultores teresinenses. Outro motivo inspirador é a fé, por causa dela a arte santeira se confunde com o que é Teresina. Mestre Dezinho, mestre Expedito são a história dessas esculturas. Anjos, santos, partes do corpo humano para pagamento de promessas estão na lista das escultura que rodeiam Teresina.

“ Ser artesão é a minha vida, é o que eu sei e aprendi a fazer”, fala o mestre Expedito, com orgulho, mostrando a carteira profissional de artesão, com o número 2. O número 1 é uma homenagem feita pelos artesãos a Mestre Dezinho, uma referência para todos, no Piauí. As esculturas santeiras, feitas aqui já foram inspiração para o documentário Anjos do Piauí, que conta como estas manifestações religiosas são elaboradas. Exemplares dessas esculturas podem ser encontrados na Central de Artesanato e no Mercado Central.

As praças que a gente não vê

Parece que ela concentra tudo em apenas um lugar. A praça Marechal Deodoro da Fonseca, que atende por Praça da Bandeira é cercada pela história viva de Teresina. Tudo ali na sua proximidade tem algo a contar e manifestações culturais a revelar. No local estão árvores seculares que resguardam uma saborosa sombra, misturada com as flores, os pombos que costumeiramente são alimentados por quem passa pelo local.

Ladeada pela Igreja Nossa Senhora do Amparo, Mercado Central, Troca-Troca, Prefeitura e Palácio da Justiça e Shopping da Cidade essa praça é ponto de encontro e um lugar para encontrar todos os tipos de pessoas. Os cantadores de rua estão sempre por lá para animar os passos daqueles que cruzam a Bandeira. Música caribenha, forró pé de serra e as cantigas dos que escolheram aquele local como moradia podem ser ouvidas por lá todos os dias. A praça da Bandeira guarda ainda o marco zero de Teresina.

A praça conselheiro Saraiva é outro ponto que protege com as suas grades a Catedral de Teresina, a igreja Nossa Senhora das Dores fundada em1867, construída pelo Vigário Manoel Mamede e ampliada pelo Bispo Dom Severino. Neste ponto está também a escultura do homem que fundou a capital, e é homenageado com o nome da praça, Joaquim Saraiva. Outros homens bem menos lembrados também são marcos do local, seus moradores que vivem com as mãos esticadas, a procura de ganhar dinheiro na porta da igreja.

Atravessando as pontes : nossos cartões postais

Em um lugar que fica entre dois rios não poderia ser diferente, são dez pontes. As construções são responsáveis para manter o fluxo de pessoas e carros. Estão espalhadas pelas diversas regiões da cidade. Das zonas norte a sudeste e também rumo ao Maranhão. A primeira a ser construída foi a ponte metálica, originalmente chamada ponte João Luís Ferreira.

Projetada pelo engenheiro alemão Germano Franz, consumiu 702 toneladas de ferro em sua construção. Sua conclusão permitiu o estabelecimento da linha férrea São Luís –Teresina. A construção é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e todos os seus ângulos já foram eternizados por fotografias, e ainda assim não se esgotam.

A ultima dessas construções foi a ponte Estaiada João Isidoro França. O local é o ponto turístico mais novo da capital piauiense, e já foi incorporada pela cultura local. Seu mirante causa nostalgia, quando temos uma visão panorâmica de quase todos os pontos de Teresina. É o velho e o moderno se entrelaçando. Aliás modernidade e história, são mesmo a cara de Teresina.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Doce das madrugadas

Só agora posso ouvir o silêncio da rua! 
Como são doces as madrugadas...sozinhas, com costelas, ou acompahas dos fluxos contínuos das redes!
Indo para rede como, se diz na terra natal, que há meses não piso.
Ela que tem o mesmo sabor doce das madrugadas! 
O meu doce de Buriti!

terça-feira, 31 de maio de 2011

O amor romântico está saindo de cena. Entrevista com Regina Navarro sem cortes

Todos os dias, a partir das 9 horas da manhã ela já está no twitter falando sobre relacionamentos amorosos e essa rotina segue até a 1h da madrugada. A sexóloga, psicanalista e escritora de sucesso, Regina Navarro Lins (@reginanavarro) atua há 37 anos como terapeuta individual e já escreveu 10 livros, incluindo o Best Seller “A cama na varanda”. Atualmente é colunista de vários sites e consultora de relacionamentos amorosos. Adepta das redes sociais ela utiliza o espaço para fazer proposições e reflexões nada conservadoras sobre as maneiras como as pessoas poderiam pensar o Amor e o Sexo. Em entrevista ao Jornal Meio Norte, a escritora falou abertamente, sobre hábitos sexuais, preconceito e o fim da exclusividade.



A sua palestra em Teresina, tem o tema “Amor e Sexo: O futuro que se anuncia.”, porque essas atividade são encaradas como eventos do futuro? As pessoas estão amando menos ou fazendo menos sexo no presente?
O título da palestra Amor e Sexo: o futuro que se anuncia se refere às tendências das relações amorosas no futuro. Estamos no meio de um processo de profunda mudança das mentalidades que se iniciou nas décadas de 1960/1970, com o advento da pílula anticoncepcional e com todos os movimentos de contracultura do período.

Homens e mulheres fazem sexo em menor quantidade do que necessitam e com muito menos qualidade do que poderiam, se frustrando durante sua própria realização. Mas isso não é de hoje. Há dois mil anos o sexo é visto como algo sujo, feio, perigoso. O pré-requisito básico para haver uma relação sexual satisfatória é a ausência de repressão, vergonha ou medo. Na sociedade hipócrita e moralista em que vivemos, uma sexualidade plena e satisfatória é muito rara, só se observando em alguns poucos casos. Para haver um sexo realmente prazeroso é fundamental que os homens se libertem do mito da masculinidade, e as mulheres do amor romântico e da ideia de que devem corresponder às expectativas do homem. É grande a quantidade de homens que vão para o ato sexual ansiosos em cumprir uma missão: provar que são machos. A preocupação em não perder a ereção é tanta que fazem um sexo apressado, com o único objetivo de ejacular, e pronto.

A mulher, com toda a educação repressora que teve ainda se sente inibida em sugerir a forma que lhe dá mais prazer. Acaba se adaptando ao estilo imposto pelo homem, principalmente por temer desagradá-lo. Fazer sexo mal é isso: não se entregar às sensações e fazer tudo sempre igual, sem levar em conta o momento, a pessoa com quem se está e o que se sente. As pessoas que gostam de verdade de sexo e o sabem fazer bem não têm preconceito, consideram o sexo natural, fazendo parte da vida. A busca do prazer é livre e não está condicionada a qualquer tipo de afirmação pessoal. Então, o sexo é desfrutado desde o primeiro contato, e se cria o tempo todo junto com o parceiro, até muito depois do orgasmo. O único objetivo é a descoberta de si e do outro, numa troca contínua de sensações, em que cada movimento é acompanhado de nova emoção.

O ato sexual pode ser uma comunicação profunda entre duas pessoas, e para isso é importante que não se tenha nada planejado, sendo criação contínua em que nada se repete. Sendo assim, o sexo deixa de ser a busca de um prazer individual para se tornar um poderoso meio de transformar as pessoas. E nem é necessário haver amor. O ponto de partida fundamental para uma relação sexual de qualidade é o desejo.

Em entrevista a apresentadora Marilia Gabriela a senhora falou que as pessoas casam por necessidade. Que necessidades seriam essas? As pessoas estão mais solitárias na contemporaneidade?


O que eu quis dizer é que a maioria das pessoas não desenvolveu a capacidade de viver bem sozinho, até mesmo para escolher melhor o parceiro amoroso. Muitos casam por necessidade de ter um parceiro (a) e não por prazer da companhia do outro. Mas isso está mudando. Cada vez menos pessoas estão dispostas a pagar qualquer preço só para ter alguém ao lado. Não é verdade que a solidão seja uma praga moderna. Os hindus dizem, em um dos seus mais antigos mitos, que o mundo foi criado porque o Ser Original se sentia solitário. É infundada a crença de que a sociedade moderna condena os indivíduos à solidão. Quando a Internet surgiu, há poucos anos, dizia-se que o ser humano estaria definitivamente perdido e que as pessoas, cada vez mais solitárias, iriam se relacionar exclusivamente com a máquina. Acreditavam que o avanço tecnológico vencia, subjugando a todos, e em breve não haveria qualquer possibilidade de troca afetiva nas relações humanas. Mas nada disso aconteceu. Nunca foi tão fácil não ser sozinho.




Se a tendência do casamento é diminuir, podemos dizer que os próximos anos serão balizados pela máxima, solteiros sim, sozinhos nunca?

Fomos ensinados a acreditar que só é possível viver bem se formarmos um casal, o que leva muita gente procurar desesperadamente um par. É comum ouvirmos a frase: “Estou procurando alguém que me complete!” O único problema é que tudo não passa de uma ilusão. Na realidade, ninguém completa ninguém. Mas, ignorando isso, reeditamos inconscientemente com o parceiro nossas necessidades infantis. O outro se torna tão indispensável para nossa sobrevivência emocional, que a possessividade e o cerceamento da liberdade sobrecarregam a relação. Por mais encantamento e exaltação que o amor romântico cause num primeiro momento, ele se torna opressivo por se opor à nossa individualidade.

Entretanto, vivemos um período de grandes transformações no mundo e, no que diz respeito ao amor, observamos que o dilema cada vez mais se situa entre o desejo de simbiose e o desejo de liberdade, sendo que este último começa a predominar. Contudo, a condição essencial para ficar bem sozinho é o exercício da autonomia pessoal. Isso significa, além de alcançar nova visão do amor e do sexo, se libertar da dependência amorosa exclusiva e “salvadora” de alguém. O caminho fica livre para um relacionamento mais profundo com os amigos, com crescimento da importância dos laços afetivos. É com o desenvolvimento individual que se processa a mudança interna necessária para a percepção das próprias singularidades e do prazer de estar só. E assim fica para trás a ideia básica de fusão do amor romântico, que transforma os dois numa só pessoa. E quando se perde o medo de ser sozinho, se percebe que isso não significa necessariamente solidão.

Mesmo com as grandes discussões sobre liberdade sexual pelo mundo, este tema ainda é tabu. A senhora que já escreveu muitos livros nesse sentido, também trabalha cotidianamente com o tema poderia apontar porque as pessoas ainda tem medo de falar sobre sexo?

A repressão sexual é um conjunto de interdições, permissões, valores, regras estabelecidas pelo social para controlar o exercício da sexualidade. Ela faz com que muita gente reprima seus desejos menos convencionais ou desista do sexo e fique quieta no seu canto. No Ocidente o sexo é visto como algo muito perigoso. A condenação do sexo surgiu, com o patriarcado restringindo-se, no início, às mulheres, para dar ao homem a certeza da paternidade. No cristianismo a repressão sexual generalizou-se. O padrão moral tornou-se, em tese, o mesmo para homens e mulheres, embora na prática houvesse maior condescendência para com o homem. A repressão não é apenas algo que vem de fora, submetendo as pessoas. As proibições e interdições externas são interiorizadas, convertendo-se em proibições e interdições internas, vividas sob a forma de vergonha e culpa.
A questão é que quando a repressão é bem-sucedida, já não é sentida como tal e a aceitação ou recusa por um determinado tipo de comportamento é vivido como se fosse uma escolha livre da própria pessoa. A doutrina de que há no sexo algo pecaminoso é totalmente inadequada, causando sofrimentos que se iniciam na infância e continuam pela vida afora. O psicanalista Wilhelm Reich considerava que as enfermidades psíquicas são a consequência do caos sexual da sociedade, já que a saúde mental depende da potência orgástica, isto é, do ponto até o qual o indivíduo pode se entregar e experimentar o clímax de excitação no ato sexual. José Ângelo Gaiarsa afirmava que uma explicação possível para haver tanta repressão reside no fato de que, quanto mais o indivíduo vai ampliando, aprofundando e diversificando sua vida sexual - e isso significa transgredir -, mais coragem ganha para fazer outras coisas, questionar outros valores. Começa a viver com maior vontade e decisão. Pode começar a se tornar perigoso. Então, não deve ser à toa nem por acaso que as forças repressoras de todas as épocas se voltaram tão sistemática e precisamente contra a sexualidade humana.
Há alguns meses tive a prova de como o sexo é visto como perigoso ao participar ao vivo do programa Sem Censura, da TV Brasil. Logo no início, a apresentadora Leda Nagle me perguntou sobre os resultados da pesquisa que fiz. Quando eu disse que me surpreendeu o fato de 77% terem declarado desejar fazer sexo a três, ela me impediu de continuar falando sobre isso. Alegou ser 16.30h e estarmos numa TV pública. Penso ser necessário refletirmos sobre esse absurdo. Não tenho dúvida de que essa repressão que impede de se conversar livremente sobre sexo é nociva. Além de tantos prejuízos causados à vida íntima das pessoas, ela está entre as causas da violência e dos crimes sexuais.

Os homens e mulheres agora exercem novos papéis sociais, os homens estão menos machões e as mulheres menos donas de casa. Essas mudanças ainda geram preconceitos? Essas alteração mudaram a forma como as pessoas se relacionam afetivamente?

No passado havia a ideia de possessão e sacrifício pelo outro. A paixão significava uma escravidão. Embora haja pessoas ainda vivendo no passado, está surgindo uma nova dimensão do amor, onde há mais troca e a tentativa de um equilíbrio, sem sacrifícios. As fantasias do amor romântico se baseiam na dependência entre os amantes. Por essa razão, elas não conseguem mais satisfazer os anseios daqueles que pretendem se relacionar com seus parceiros como eles são e viver de forma mais independente.

A tendência hoje é o desejo de viver um amor baseado na amizade. Para isso são necessárias novas estratégias, novas táticas por meio de experiências nunca antes tentadas. Para conhecer o outro é preciso um encontro sem idealização, reproduzir o passado não é mais suficiente. Muitos gostariam de inventar uma nova arte de amar, e pela história fica claro que existem precedentes, portanto, é possível fazê-lo. O amor romântico começa a sair de cena, levando com ele a idealização do par romântico, com a ideia dos dois se transformarem num só e, consequentemente, a ideia de exclusividade. Com isso, abre-se a possibilidade de se amar e de se relacionar sexualmente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo.


Como você definiria, classificaria, o amor e o sexo nos tempos de hoje? Seria uma coisa Baumaniana, da liquidez , onde as relações são frágeis?

A fusão proposta pelo amor romântico é extremamente sedutora. A grande maioria das pessoas acredita que não há remédio melhor para o nosso desamparo do que a sensação de nos completarmos na relação com outra pessoa. Entretanto, hoje, a vida a dois, numa relação estável — namoro ou casamento — se tornou difícil de suportar diante das transformações e apelos da sociedade atual. Principalmente porque sempre se aceitou como natural que um casal vivesse numa relação fechada, onde só participavam a possessividade, o controle e o ciúme. Mas, no momento em que os modelos de amor, casamento e sexo se tornaram insatisfatórios, abriu-se espaço para novas experimentações no relacionamento afetivo-sexual.
O sociólogo inglês Anthony Giddens chama de “transformação da intimidade” o fenômeno sem precedentes de milhares de homens e mulheres que, estimulados pelos amplos movimentos sociais atuais, estão tentando, consciente e deliberadamente, desaprender e reaprender a amar. Tudo indica que as relações amorosas no futuro serão mais livres e, por isso mesmo, mais satisfatórias. Não alimentando fantasias românticas de fusão com outra pessoa, cada um tem a oportunidade de pretender se sentir inteiro, sem necessitar de outro para completá-lo. Aí então será possível descobrir as incontáveis possibilidades do amor e como ele pode se apresentar para cada pessoa em cada momento de diferentes maneiras.


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Liberdade atraente

Adoro as possibilidades principalmente quando elas se mesclam de perigo e prazer. Que os homens e mulheres possam entender que a liberdade é mais atraente que as correntes... e mais saborosa também. Parem de optar pelo que prende. Um tributo ao fim das obrigações... principalmente as de caráter sentimentais.

sábado, 16 de abril de 2011

E essa gente é DEMAIS!


Não teve mesmo como não ir. E se não tivesse ido à certeza de que esta hora eu estaria arrependida era outro fato. Quem me conhece sabe que odeio mudanças repentinas e alterações bruscas. Não gosto mas sei que elas acontecem e por causa disso tenho que adaptar, acho que todo mundo faz isso.

Gosto de ir para as festas cedo, uma teimosia pessoal, porque sei que os shows agora só começam mesmo depois da 1 hora da manhã. Mas este foi diferente. O clima incerto de Teresina nessa época do ano foi o causador dessa alteração. Uma chuva que mais parecia o dilúvio de Noé, me fez sair de casa mais depois meia-noite e quarenta e cinco Isso depois de passar 20 minutos ligando para o taxi, só dava ocupado, e quando deu certo ainda tive que esperar mais 15 minutos. Até quem fim consegui sair de casa. Já estava parecendo um milagre.

"Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui. Percorri milhas e milhas antes de dormir"... foi maravilhoso! Depois de uma épica chuva... valeu cada centavo, e Teresina virou mesmo uma Cidade Negra. E pela primeira eu estava no show da banda reggae. Estilo musical que, aliás, faz parte da minha vida desde a infância, com o papai ouvindo Bob Marley e Peter Tosh, ainda nas fitas.

Mas a história da minha dificuldade em chegar ao show perderia todo o sentido se a festa não tivesse sido maravilhosa e perfeita. Se tiver outras palavras para definir o quão bom foi, sintam-se a vontade para usá-las. O que me impressionou, além da beleza do Toni Garrido, que já era esperada foi à energia que ele leva ao palco. Ele estava maior que as luzes. A banda em uma sincronia perfeita e os fãs eufóricos. Nem a chuva foi capaz de deixar a galera em casa, ao contrário tinha muita gente. E essa gente era DEMAIS!

Uma prova que a noite teresinense está mudando e aquele velho hábito das coisas culturais deixarem de acontecer porque chove está sendo abandonado. O cotidiano da cidade está mudando, ela está crescendo e a gente está gostando.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Elogio a falta de razão


            “Idéia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita”, é o título de uma das obras do filósofo Immanuel Kant, no texto ele descreve em linhas gerais a relação entre o jogo da razão e da liberdade da vontade humana. Mais que tudo, Kant explica como são irregulares e confusos os sujeitos individuais e justifica que no conjunto da espécie, a homo sapiens, a evolução é progressiva. O que justificaria a incoerência do indivíduo, já que para ele em toda a sua vida (limitação temporal entre nascimento e morte) o homem não é capaz de apreender tudo aquilo que necessita para viver. Esse legado é permitido pela cultura.

            Um dos motivos para isso advém da razão. O verbete que afastou o homem inteiramente de tudo o que o ligava ao estado de natureza, é o mesmo que permite a este, proporcionar-se a si mesmo felicidade e perfeição. O homem é livre do instinto e a sociedade é maior que o indivíduo. O indivíduo nesses tempos de pós modernidade parece querer transformar o mundo, e voltar ao hobbesiano – homem lobo do homem – com a falta da razão.

            O filosofo que pregou a necessidade da paz perpétua, depois da evolução progressiva da espécie tem se mostrado equivocado a meu ver ou seus pensamentos já não cabem mais, quando tudo está para a violência e as razões estão perdidas. Ou os sujeitos individuais de hoje não foram ensinados culturalmente, pelas descobertas das gerações anteriores que as suas vidas só fazem sentido se forem sociais. Estão individuais e dentro do quadrado individual eles se perdem e ferem e matam.

            Esses casos estão mais freqüentes. Agora foram 12, que tiveram seu tempo de aprendizado diminuído porque um sujeito individual não foi “culturalizado” o suficiente para edificar em si os códigos e leis que garantem o convívio social saudável e a evolução progressiva da espécie humana. Que legado essa geração vai deixar para a futura? Difícil de prever. O do genial desenvolvimento tecnológico ou dos indivíduos sem razão? Inimaginável.
           
            Eu queria que Kant estivesse presente nos dias de hoje. Talvez sua genialidade fosse capaz de solucionar, o problema da falta de razão dos homens. Uns ficam transtornados, outros são vírus de si mesmo e destroem o mundo onde vivem, e ainda há aqueles que preferem fingir que nada acontece. E os que são feridos não são ativistas das mudanças, parecem estar conformados com a regressão e com a insanidade.

            “Mas todo bem que não esteja enxertado numa intenção moralmente boa não passa de pura aparência e cintilante miséria”, assim dizia o autor sobre os homens. Mas ele cria no esforço do gênero humano em sair da miserabilidade. Eu já não creio tanto assim. Falta a coragem para ser feliz e para buscar a perfeição. Estamos mesmo na miséria, na miséria das relações e da razão.

           
           
           

Faltou apenas um rs!

Entendo que as pessoas podem, e vão te decepcionar em algum momento da vida. Shakespeare já escreveu isso e eu aprendi com ele. Por isso costuma-se aconselhar: “confie seus maiores segredos a você mesmo. Aí sim eles estarão seguros.” Mas quando você pensa que descobriu um amigo começa a compartilhar boas coisas, outras nem tanto e aí já viu.

De repente, os anos passam e um negócio chamado empatia começa a tomar conta das conversas e muitas coisas nem precisam mais ser ditas por que, aquele seu “amigo” já sabe. Seus gestos, a velha linguagem corporal e aqueles dizeres rotineiros entregam os pensamentos. Que os “amigos” conhecem bem, ou deveriam conhecer!

Há duvida? Eu entendia que ela não deveria existir. Mas se sim, era o diálogo deveria imperar e não a incerteza. Mas não! Essa tal empatia, deturpa pelo excessivo grau de entendimento de um sobre o outro, que você já tem a plena certeza ao que ele está se referindo, e isso se converte em seu pensamento.

Ledo engano. As pessoas são voláteis, os hormônios se alteram, sua rotina muda e as associações seguem outro raciocínio que, em alguns casos, os “amigos” não conseguem entender. Aí já viu! “Ficou louca, só pode estar me diminuindo! Como foi capaz?”. Quando na realidade o que mudou foi a situação, não a índole do outro. De fato ele não foi capaz, não é do feitio dele, mas você não pode perceber, porque o sentimento te pertencia e não a ele. Uma pena! Talvez tenha faltado o rs, na gagueira da empatia, ou você já não estava mais disposto.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A frente do tempo e atrás do volante

Já perdi a conta de quantas pessoas com o nome Fábio – na variação feminina também - já passaram por minha vida. Inclusive um dos melhores amigos foi abençoado com esse nome. Mas não quero falar dele, quero falar do ultimo que conheci. Foi incrível... conheci mais a voz que o rosto. Ele era a personificação da comunicação

Primeiro, por causa da infinidade de seres amigos com o nome fui ver o que significava: Significa plantador de favas e indica uma pessoa com facilidade de comunicação. Adora conversar, até com desconhecidos – era o meu caso -, e se sai bem em atividades que exijam contato pessoal e direto, como vendas, relações públicas e entrevistas. Sai pra lá, num tinha nome mais cabido para colocar naquele ser.

Depois de pedir o taxi a atende me retorna e fala – Senhora vai demorar entre 25 e 30 minutos para chegar – isso significava que perderia o vôo caso algo desse errado no caótico trânsito paulistano. Mas graças a Deus ela tava errada e em menos de cinco minutos o táxi chegou. Foi aí onde tudo começou.

Qual o destino? Aeroporto de Guarulhos. Uhm! Cumbica certo? Não! Guarulhos! Então é a mesma coisa! Vixe, é mesmo nem lembrava! Pois vamos lá que ta longe. Bom eu tava no bairro de Santo Amaro e sem muito trânsito levariuma hora, como de fato foi. E vai pra onde? Como assim num é para o aeroporto? Não para qual Estado? Ah tá! Me desculpe, vou para o Piauí!

Foi nesse diálogo desencontrado que eu conheci mais um Fábio e pelo que já deu pra perceber ele é o taxista. Nessa história a simplicidade e a gentileza foram às palavras de ordem. E diferente do que ele me falou depois do fim da corrida eu aprendi com ele bem mais do que ele pensa! – Mas moça, os jornalistas pensam diferente, a frente do tempo, não são como taxistas. Aquela fala ficou martelando.... – Nada senhor, as pessoas apenas pensam, e alguns casos diferente umas das outras.

Um cristão como ele mesmo se definiu, que tem três filhos sendo uma menina, um menino e uma filha de coração, como ele também descreveu aquela que não tem relações consangüíneas. Já foi casado com uma cearense, a mãe dos filhos e namorou por um tempo um paraibana, mas terminou com ela porque era ciumenta. A propósito o ciúme foi algo que ele contou como característica comum a todas as nordestinas. Não que eu concorde. E por fim um Corintiano! No seu taxi era fácil reconhecer, até a agenda era do Corinthians.

Enquanto durou a corrida, seu celular tocou duas vezes, eram os filhos e essa sim foi à coisa mais emocionante – a forma como ele falou com eles – um carinho de dar inveja, uma singeleza tamanha que eu queria estar do outro lado da linha. Amo meus pais, mas juro essa foi à sensação. Aprendi naquele instante que é possível ser gente e que ainda se tem chance para fazer o melhor.

Mas até chegar ao aeroporto eu iria rir, ouvir outras tantas histórias e visitar o Parque São Jorge – centro de treinamento do Corinthians, só para fotografar mesmo. Por sinal foi um dia antes do Ronaldo Fenômeno anunciar que largaria os gramados. [Eu adoro o futebol e essa foi sem duvidas uma maravilhosa experiência]. Mas isso tudo aqui foi para discordar do seu Fábio, os jornalistas não pensam a frente do seu tempo, O Taxista sim! Afinal, as respostas deles eram as melhores. – Thays, pois se uma pessoa me disser que é homossexual e eu respondo espero que sua decisão o faça feliz, é o que importa. Aliás eu apóio as decisões das pessoas não é meu papel questioná-las só para provocar a tristeza, para que mesmo? O mundo já tem tanto problema. –, disse ele sobre a questão das minorias, depois de ter visto um gay passar pela calçada.

O que dizer sobre isso? Não tinha como discordar dele... e depois de horas de vôo cheguei ao Piauí, com sensação que mais uma vez a viagem tinha valido a pena, pelas pessoas! Depois de tudo isso entendi perfeitamente o que é o movimento pela delicadeza. As coisas podem ser mais fáceis, é só cobrar menos, eu aprendi. Obrigada!