domingo, 27 de novembro de 2011

Todo dia é pleonasmo

Por Thays Teixeira

            Gosto do cotidiano. Muitos reclamam que ele é o responsável por entediar a vida. Eu discordo, e radicalmente. Entendo que por trás, do “todo dia ela faz tudo sempre igual”,  como diz o Chico, existe uma sincera beleza, talvez eu tenha aprendido a compreendê-la, escutando essa canção. É da simplicidade que eu gosto, e o simples, nada mais é que um cotidiano. 
            Não é porque se faz algo todos os dias que ele perde o encanto e a boniteza. Sem duvidas essa cobrança excessiva pelo diferente, uma novidade a cada segundo é uma questão econômica, um raciocínio devorador, consumista. Levantar-se, tomar café, sentindo o gosto suave do grão, pegar um ônibus e observar o colorido das faces, o som e a multiplicidade das vozes e palavras.
            Imaginar os significados. Tentar entender diariamente porque existe uma cobrança para que a teoria domine a realidade, quando na verdade essa não é a intenção dela , ler milhares de livros, buscando respostas que nunca virão. Isso é lindo, é desafiador, e é todo dia.
            Parece que o cotidiano é pequeno, mas não é. Talvez, melancólico por ser igual, ou próximo. Já diria o alemão Marx os fatos históricos são únicos, por isso que o cotidiano me comove, está inserido nessa categoria de nunca se repetir demasiadamente da mesma forma, de ser assim como os fatos. Acho que estamos perdendo a capacidade de nos comover, a falta dela pode ter deixado o cotidiano sem brilho. E nós seguimos ficando sem .....enxergar que o simples todo o dia é mergulhado no belo, se pararmos e percebermos, os olhos até brilham.
            E eu? Eu não tenho medo de viver, só tenho medo de não saber viver!
                        

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

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A cidade da hastag: #esperança

Por Thays Teixeira

            Na língua portuguesa existe uma figura de linguagem que troca o nome próprio de lugares e pessoas por adjetivos que lhes caracterizam, é a perífrase. A cidade do Rio de Janeiro tem um desses apelidos conhecidos, a cidade maravilhosa. E com todos os motivos do mundo para receber esse título, o lugar é realmente impressionante e lindo. Mas eu diria que este não o único apelido que o Rio de Janeiro mereceria ganhar.
            Com as novas modalidades de contato e comunicação, as redes sociais, surgem novos vocábulos que identificam campanhas, pessoas e locais e que se tornaram febre pela internet, são as hastags. Com o twitter elas agora são acompanhadas pelo famoso # e se popularizaram até tomar conta das ruas. Das ruas do Rio de Janeiro. Agora a cidade maravilhosa é a cidade das hastags.
            Umas são bem populares como #geraltásabendo #étrocador #bissscoitoglobo ou outras que não são famosas mais arrancam risos dos meus amigos como #idiotinhasdaLapa ou #eutômuitofeliz.. E sim é quase unanimidade que, os cariocas tem palavras feitas para descrever determinadas situações, geralmente eles falam palavrões. Adoro palavrões! Mas são essas coisas que encantam no Rio, é o seu povo, o jeito deles, é carinhoso e hospitaleiro. Dá saudade, saudade das pessoas.
            Na minha ultima viagem a cidade das hastags eu conheci uma pessoas dessas que merecem virar hastags, ela se chamava Sandra. Estávamos dentro do ônibus 384 que faz o itinerário Centro-Jacarépagua, sem trânsito pelo menos uma hora, mas não foi o caso e acabamos por conversar mais de duas horas. Cruzamos toda a linha amarela, atravessamos Cidade de Deus, vimos o teleférico do Complexo do Alemão e muita gente subiu e desceu. E eu como sempre não sabia exatamente em que parada descer, ou como eles dizem por lá ponto, tratei logo de conversar para não me sentir perdida. E que bom que eu conversei.
            A Sandra tinha cursado Serviço Social na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói e agora era empresária. Quanto eu aprendi com ela! Mas não pelos conhecimentos que poderia ter passado com o seu curso, ao contrário, aprendi a ser um pouquinho mais gente.  Ela como a maioria dos cariocas foi gentil e delicada ao explicar que eu não precisava me preocupar que daria tudo certo.
            A partir daí começamos um bate papo que me revelou uma pessoa lutadora, com sonhos e que ainda tinha esperanças quanto à política brasileira, assim como eu as tenho, mas que não se iludia esperando milagres do poder público. Continuava a lutar por seus dias melhores, que lindo!  Me falou encantada do seu Rio de Janeiro e do que gostava na cidade, falou que gostava de arte, música, e observou ....
            Comprou balinhas Mentos da cor vermelha dentro do ônibus e eu preferi as verdes. Kkkk! Eram de cereja e maçã-verde. Sempre troco os sabores pelas cores.
            Mas nas conversas como sempre falei muito e também falei de mim, dos meus sonhos, vontades, das coisas que tinha desistido de fazer e ela ouviu atentamete e respondeu: não desista, comece de novo até darem certo, e o faça desejando o melhor para você e para os outros, eles aconteceram. Foi um estímulo para ser feliz!
            O olhar de quem estava no ônibus para a gente era como se eles achassem que nos conhecíamos há anos e nao há minutos, como de fato. Foi muito divertido! Inclusive quando ela foi embora eu rapaz perguntou: E vocês não andavam juntas? A nossa despedida foi tão veloz quanto para nos conhecer-mos, ela anotou seus telefones, e email no bloco de papel que sempre carrego comigo e quase que não consegue descer no ponto certo. Os números deram certo, mas o email ela anotou tão depressa que deve ter faltado alguma letra. Uma pena!
            A Sandra é o tipo de pessoa que a gente gosta de graça, mesmo tendo possibilidades de nunca mais vê-la, com certeza ela já faz parte da minha lista de pessoas, que eu ser pelo menos parecida. Acho que era o sorriso dela que passava a tranqüilidade, uma paz! Para minha ela é #mulherdeluz, que me disse um dia  me disse que eu deveria fazer teatro.... e eu lhe digo que ela virou minha hastag a : #esperança!

sábado, 12 de novembro de 2011

Sai pra lá, Lei de Murphy!

Arrumar as malas é sempre um desafio quando pretendemos viajar. Aquele medo de esquecer algo que nos será valioso mais a frente acompanha os pensamentos quando colocamos cada pecinha no seu devido lugar. Pode parecer “monkisse” [pleonasmo referente ao personagem Adrian Monk, do seriado Monk – um detetive muito estranho, por causa dos seus hábitos peculiares de organização], mas é bem prático escrever uma listinha com tudo aquilo que você coloca na mala. A seqüência de palavras faz você lembrar-se do que está esquecendo, se faltar algo, e na volta é preciso apenas conferir que o que você colocou na ida está tudo dentro novamente. Confesso, faço isso!
            Mas porque comecei falando desse hábito, um tanto quanto diferente? É que na ultima viagem eu não pude cumprir a risca a minha lista! E não porque eu tenha desaprendido a ler, ou porque tenha adquirido alguma deficiência e não tenha feito versões da lista em padrões de acessibilidades. Nada tão drástico. Apenas, a pobre coitada da minha câmera fotográfica que me foi furtada e se configurou como item ausente da minha pobre listinha.
            Em outros tempos eu teria ficado transtornada por causa dessa perda, teria corrido diretamente para uma delegacia para registrar a queixa, mas num fiz nada disso. Afinal, eu não teria minha câmera de volta, perderia toda a minha noite ao som do bom samba carioca na Lapa e também teria perdido a oportunidade de conhecer as três personagens dessa história.
            Como pela racionalidade lógica as coisas começam pelo começo, eis o primeiro dos cavalheiros, ele atende pelo nome de Robin. Um típico sueco: caucasiano dos olhos azuis, que como a maioria dos gringos tinha uma dificuldade tamanha de sambar. Ele até que se esforçou, mas ficou só nisso mesmo, e deve ter terminado a sua noite em alguma farra pelas bandas de Botafogo com as moçoilas que o carregaram para distante da roda de samba. E esta que vos fala voltou a junto da sua anja-amiga que estava com a mãe passando mal. Tínhamos que ir embora. Ah! Ia esquecendo, a pobre da anja-amiga também entrou na rota dos furtos e teve a sua carteira bandeada para a bolsa de outra pessoa. Que noite traumática! Antes de tudo isso já tinha perdido o ensaio da Vila Isabel! Parecia que tudo seriam percas! Sai para lá, lei de Murphy!
            E ela saiu mesmo! Aí entram os outros dois personagens. Para chegarmos a Lapa pegamos uma Kombi (aqui no Piauí a gente chama de bestinha), nela vinham dois rapazes que também iam para o mesmo local onde estávamos. No meio do povo, me aparecem dois loucos gritando...  – Ei vocês estavam na Kombi! Gargalhadas, foi aqui que elas começaram. A gente respondeu que sim.  – Porra! Elas tavam na Kombi, ei a gente ta indo embora o Marcelo vai passar umas 04h10min, vamos! Óbvio que esta era uma maravilhosa notícia. Uma pessoa passando mal, não teríamos que pegar dois busão para voltar. Ora se não vamos! E fomos.
            A partir daí eu perdi as contas de quantas vezes eu sorri, ouvi a expressão #eutômuitofeliz em alto e bom som e vi esta mesma figura descendo da Kombi gritando chamando passageiros, e dançando em plena Central do Brasil (a estação)! Detalhe: essa era a primeira vez que eles tinham pegado essa Kombi, e não eles não conheciam o Marcelo - o motorista -, tinham pegado o telefone dele na ida. Uma piada só esse moço, cujo batismo lhe reconheceu como Rodrigo. Pelo que pude ouvir, quando ele não estava dizendo que paquerou muitas gringas e que tinha levado fora de todas mesmo sendo muito bonito, ou quando não gritava #eutômuitofeliz é que ele cursava educação física, iria fazer o exame do Enade naquela tarde, que iria cursar Medicina mais a frente e que já tinha jogado futebol profissionalmente pelo Internacional de Porte Alegre e em outros times dos quais o nome não me recordo, acho que o América também. Toda a sua história de vida, que eu pude saber naquelas poucas horas. Além disso, ele ainda demonstrou ser apaixonado, pela ex-namorada, uma dor de cotovelo num sei, algo do tipo. Mas o que quero deixar claro mesmo é que ele é um excelente cobrador (trocador) de Kombi consegui lotar, berrando os itinerários, rodovias a fim, o que arrancava risos, até de quem vinha passando mal desde a Lapa.
            Como os loucos não costumam andar só, esse levava a tira colo, o amigo, cujo nome é estrangeiro Patrick, igual ao do ator que fez Ghost e Eternamente Lulu. O Patrick daqui não fez cinema, mas trabalha com efeitos especiais e levava marcas do trabalho pelo corpo, queimaduras de explosão. Um profissional da Rede Globo que tinha sido o responsável pelos efeitos realizados pelo robô zariguim da novela Morde & Assopra. Para uma noveleira de plantão, isso era o máximo.  – Cara, tu fez o zariguim, que fofo! Quase morro emocionada. No entanto o que mais chamou atenção, no rapaz foi o seu auspicioso jeito de ser irônico e de contar piadas bobas. – Você gosta de água? Sim! Que bom porque 70% do meu corpo é feito dela. Só lembrando que eu só acreditei que ele trabalhava na Globo depois de ver o seu cartão do plano de saúde com a marca da emissora. Não! Ele não desceu gritando os itinerários como o amigo, mas comprou Skiny (o salgadinho), que ele insistia em chamar de Bisssscoito (sotaque carioca) e eu de petisco. Tudo se tornou motivo de piada, depois de tudo isso.
            #eutômuitofeliz virou clichê nas nossas conversas, e os acontecimentos tristes do início não afetaram o nosso desejo de continuar a diversão. O que aprendi com isso, foi que traumas sempre são seguidos de boas novas, e que tudo é uma questão de paciência, se não foi agora vai ser depois! Nem que seja pelo facebook.
            A minha câmera depois de tudo isso já nem importava tanto assim. E por causa da falta de uma imagem que não me foi permitida tirar optei por registrar esta louca história [mais uma vivida junto com a minha anja-amiga] por meio de um amontoado de palavras, que formam frases, e seguida de parágrafos que juntos viram um texto, que eu ainda insisto em chamar de crônica.
PS: Preciso fazer listinhas de viagens com versões para acessibilidade.