sábado, 12 de novembro de 2011

Sai pra lá, Lei de Murphy!

Arrumar as malas é sempre um desafio quando pretendemos viajar. Aquele medo de esquecer algo que nos será valioso mais a frente acompanha os pensamentos quando colocamos cada pecinha no seu devido lugar. Pode parecer “monkisse” [pleonasmo referente ao personagem Adrian Monk, do seriado Monk – um detetive muito estranho, por causa dos seus hábitos peculiares de organização], mas é bem prático escrever uma listinha com tudo aquilo que você coloca na mala. A seqüência de palavras faz você lembrar-se do que está esquecendo, se faltar algo, e na volta é preciso apenas conferir que o que você colocou na ida está tudo dentro novamente. Confesso, faço isso!
            Mas porque comecei falando desse hábito, um tanto quanto diferente? É que na ultima viagem eu não pude cumprir a risca a minha lista! E não porque eu tenha desaprendido a ler, ou porque tenha adquirido alguma deficiência e não tenha feito versões da lista em padrões de acessibilidades. Nada tão drástico. Apenas, a pobre coitada da minha câmera fotográfica que me foi furtada e se configurou como item ausente da minha pobre listinha.
            Em outros tempos eu teria ficado transtornada por causa dessa perda, teria corrido diretamente para uma delegacia para registrar a queixa, mas num fiz nada disso. Afinal, eu não teria minha câmera de volta, perderia toda a minha noite ao som do bom samba carioca na Lapa e também teria perdido a oportunidade de conhecer as três personagens dessa história.
            Como pela racionalidade lógica as coisas começam pelo começo, eis o primeiro dos cavalheiros, ele atende pelo nome de Robin. Um típico sueco: caucasiano dos olhos azuis, que como a maioria dos gringos tinha uma dificuldade tamanha de sambar. Ele até que se esforçou, mas ficou só nisso mesmo, e deve ter terminado a sua noite em alguma farra pelas bandas de Botafogo com as moçoilas que o carregaram para distante da roda de samba. E esta que vos fala voltou a junto da sua anja-amiga que estava com a mãe passando mal. Tínhamos que ir embora. Ah! Ia esquecendo, a pobre da anja-amiga também entrou na rota dos furtos e teve a sua carteira bandeada para a bolsa de outra pessoa. Que noite traumática! Antes de tudo isso já tinha perdido o ensaio da Vila Isabel! Parecia que tudo seriam percas! Sai para lá, lei de Murphy!
            E ela saiu mesmo! Aí entram os outros dois personagens. Para chegarmos a Lapa pegamos uma Kombi (aqui no Piauí a gente chama de bestinha), nela vinham dois rapazes que também iam para o mesmo local onde estávamos. No meio do povo, me aparecem dois loucos gritando...  – Ei vocês estavam na Kombi! Gargalhadas, foi aqui que elas começaram. A gente respondeu que sim.  – Porra! Elas tavam na Kombi, ei a gente ta indo embora o Marcelo vai passar umas 04h10min, vamos! Óbvio que esta era uma maravilhosa notícia. Uma pessoa passando mal, não teríamos que pegar dois busão para voltar. Ora se não vamos! E fomos.
            A partir daí eu perdi as contas de quantas vezes eu sorri, ouvi a expressão #eutômuitofeliz em alto e bom som e vi esta mesma figura descendo da Kombi gritando chamando passageiros, e dançando em plena Central do Brasil (a estação)! Detalhe: essa era a primeira vez que eles tinham pegado essa Kombi, e não eles não conheciam o Marcelo - o motorista -, tinham pegado o telefone dele na ida. Uma piada só esse moço, cujo batismo lhe reconheceu como Rodrigo. Pelo que pude ouvir, quando ele não estava dizendo que paquerou muitas gringas e que tinha levado fora de todas mesmo sendo muito bonito, ou quando não gritava #eutômuitofeliz é que ele cursava educação física, iria fazer o exame do Enade naquela tarde, que iria cursar Medicina mais a frente e que já tinha jogado futebol profissionalmente pelo Internacional de Porte Alegre e em outros times dos quais o nome não me recordo, acho que o América também. Toda a sua história de vida, que eu pude saber naquelas poucas horas. Além disso, ele ainda demonstrou ser apaixonado, pela ex-namorada, uma dor de cotovelo num sei, algo do tipo. Mas o que quero deixar claro mesmo é que ele é um excelente cobrador (trocador) de Kombi consegui lotar, berrando os itinerários, rodovias a fim, o que arrancava risos, até de quem vinha passando mal desde a Lapa.
            Como os loucos não costumam andar só, esse levava a tira colo, o amigo, cujo nome é estrangeiro Patrick, igual ao do ator que fez Ghost e Eternamente Lulu. O Patrick daqui não fez cinema, mas trabalha com efeitos especiais e levava marcas do trabalho pelo corpo, queimaduras de explosão. Um profissional da Rede Globo que tinha sido o responsável pelos efeitos realizados pelo robô zariguim da novela Morde & Assopra. Para uma noveleira de plantão, isso era o máximo.  – Cara, tu fez o zariguim, que fofo! Quase morro emocionada. No entanto o que mais chamou atenção, no rapaz foi o seu auspicioso jeito de ser irônico e de contar piadas bobas. – Você gosta de água? Sim! Que bom porque 70% do meu corpo é feito dela. Só lembrando que eu só acreditei que ele trabalhava na Globo depois de ver o seu cartão do plano de saúde com a marca da emissora. Não! Ele não desceu gritando os itinerários como o amigo, mas comprou Skiny (o salgadinho), que ele insistia em chamar de Bisssscoito (sotaque carioca) e eu de petisco. Tudo se tornou motivo de piada, depois de tudo isso.
            #eutômuitofeliz virou clichê nas nossas conversas, e os acontecimentos tristes do início não afetaram o nosso desejo de continuar a diversão. O que aprendi com isso, foi que traumas sempre são seguidos de boas novas, e que tudo é uma questão de paciência, se não foi agora vai ser depois! Nem que seja pelo facebook.
            A minha câmera depois de tudo isso já nem importava tanto assim. E por causa da falta de uma imagem que não me foi permitida tirar optei por registrar esta louca história [mais uma vivida junto com a minha anja-amiga] por meio de um amontoado de palavras, que formam frases, e seguida de parágrafos que juntos viram um texto, que eu ainda insisto em chamar de crônica.
PS: Preciso fazer listinhas de viagens com versões para acessibilidade.
           




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