sexta-feira, 31 de maio de 2013

A saudade é como molho agridoce

O grande rei do baião disse uma vez: “a saudade amarga que nem jiló”, mas o mesmo gênio da composição musical nordestina afirmou também que este sentimento pode ser bom. E nessa linha tênue entre o bom e o ruim a saudade movimenta a vida de muitas pessoas, de todas possivelmente. Quem nunca sentiu saudade daquela velha roupa que viu outro dia em uma foto antiga? Quem nunca sentiu saudade daquelas brincadeiras da infância que nos deixavam sujos como o quê? Quem nunca sentiu saudade daquele primeiro amor, ou de um doce familiar que se foi? Quem nunca?
            São tantos quem e tantas velha lembranças, que temos vontade de lacrimejar só em pensar que foi bom viver muitas dessas coisas. Mas também sentimos vontade chorar todas as vezes que lembramos que algumas delas foram dolorosas e tristes. A saudade se configura nesse entremeio de  coisas que não podemos mensurar, nem quantificar mas sabemos que estão ali ou que já estiveram em algum momento de nossa história. E porque esse sentimento é tão presente em nós? Seria mais fácil não lembrar, não ter vontade de reviver, ou de sentir muitos desses momentos. Seria, mas não é assim que a vida gira.
            O que temos é esse principiar e fim, é esse monte começo e monte de finais. As coisas da vida parecem mesmo últimos capítulos de novelas, onde paramos para ver e nos empolgamos com as formas que as façanhas e vivências terão, queremos saber como findará. E esse desejo de fim se une com aquela ganancia pelo botão de resetar, que nos garantiria a possibilidade de começar tudo de novo. O botão reset que está presente apenas nos vídeo games não foi dado para a humanidade. Nós humanos no máximo conseguimos inventar para nos próprios as memórias e junto delas a valiosa saudade.
            Hoje  é o dia de um bom samba igual aquele que dançamos na última semana, em que  viajava com uma amiga. Na realidade hoje é o dia de ir ao samba, contudo somos nós que não estamos mais lá, naquela cidade animada que tem dias onde se toca apenas samba. Somos nós que pela necessidade de sentir saudade partimos para a nossa casa e deixamos os outros amigos, que certamente estarão naquele bom samba, logo mais a noite. E nós que não poderemos estar presentes ficaremos com aquela sensação de que estaremos perdendo algo, perdendo mais que bons passos pela gafieira, estaremos perdendo um bocado de sorrisos.
            Deve ser mesmo por que vamos perder os sorrisos de outrora, que vivemos por sentir saudades. Quando lembramos daquela velha roupa, ou daquele namoradinho de outrora, ou das brincadeiras,  ou do samba da última semana, estamos mesmo é lembrando dos sorrisos que ficaram no passado, dos sorrisos que não podermos mais ter de volta. Sentimos a dor e a delícia de saber que eles estão lá. É o sabor agridoce da saudade, que é delicioso como o mel e amargo como o jiló do seu Lua. E mesmo assim a gente sempre está correndo atrás de temperar a nossa vida com esse molhinho.
          
            Sorrindo mais um pouquinho vamos caminhar pelos lugares, e pensar sempre que a vida é assim um conglomerado de começos ameaçados todos os momentos pelos fins que eles precisam ter e pela vontade de perpetuá-los.
          
            Vai repetir o prato, meu senhor? E posso saber se gostaria de um pouco mais de molho dessa vez?

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