domingo, 5 de maio de 2013

E do meio do nada chegamos a um Lugar Comum *


Por Thays Teixeira

Planejamos começar muitas coisas todos os dias. Alguns desses planejamentos se perdem nas horas que se encaminham e ficam por lá, nas encostas do tempo. Mas outros não, outros dão certo e a concretude é o triunfo, ou o trunfo. E nessa história diária de começar coisas e de não, é que ousamos. Ousamos ver amigos, ousamos conhecer pessoas, ousamos conversar sobre esses planos e ousamos executá-los. Na maioria dos casos é essa ousadia o catalisador.

Na tentativa de colocar em prática qualquer coisa e transformar a pasmaceira do cotidiano, você acessa uma rede social para tentar ter uma grande ideia e ver ousadias alheias. As ideias parecem que não vem mais do nada nesse ambiente cheio de coisas repetidas e milhares de vezes reproduzidas. As ousadias estão lá temos apenas que encontrá-las. Tudo já está imerso na premeditação dos planejamentos iniciais dessa história.

Numa dessas maluquices de querer começar algo, você pode conversar com um velho amigo e lhe contar um plano, que nunca imaginou que dividissem. Escrever quem sabe, e mais que linhas cômicas em uma janela de bate papo, essa é uma coisa a se fazer. Que tal colocarmos em evidência aquele velho plano da manhã? Vamos escrever como sempre pensamos? Ou, vamos apenas escrever. E assim o entusiasmo da ousadia chegou audaciosamente.

E corremos para que esse plano não ficasse encostado nas armadilhas do tempo. Percorrer o caminho da aprovação de escrever, disso ser útil e mais ainda de isso ser possível de publicar. Contatos acionados e autorização garantida. Com tudo teoricamente finalizado vieram os medos: temas, frequência de escrita, compromisso, aprofundamento, ego alimentado, remuneração inexistente, contar aos amigos e família, alegria. O projeto novo começou!

Complexamente, as coisas do dia têm formas peculiares de principiar e que bom que tem. Do contrário, tudo seria uma permanente repetição e não fugiríamos do mito do eterno retorno de Nietzsche, se bem que, é legal pensar que tudo pode voltar outra vez, só não precisa ser igual. Nestes tempos, deve ser um pensamento assim que nos coloca a procura de novos projetos em meio às redes sociais, nas telas acesas e frias de um computador, ou algo semelhante. Deve ser o desejo de retomar algo, com feições de novo e um delicado sabor de plano repetido que nos coloca a prova.

Que ideal filosófico! Algo tão lugar comum, só pode começar mesmo de um simples plano de escrever e de publicar fora de uma página cheia de amigos selecionados e aceitos. E planejar coisas diariamente mantém o mesmo sentido da ideia comum de contar histórias de coisas e pessoas. A forma é tão aleatória que do meio do nada chegamos ao Lugar Comum de escrever, ou de tentar alinhar palavras. Talvez essa seja mesmo a perspectiva dos planejamentos: fazer com que coisas repetidas tenham cara de novas, cheiro de velhas e sabor de ousadia.

*Texto originalmente publicado no Jornal O Dia (Teresina - Piauí), em 04 de maio de 2013, na coluna Lugar Comum

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