quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Jornalismo é literatura- uma lógica dialética

“As palavras são a matéria-prima com que a literatura é construída”, partindo dessa idéia é feita a seguinte pergunta: Qual é a matéria-prima do jornalismo senão as palavras?Ora, então jornalismo é literatura ou um gênero desta? Tentar-se-á entender estes dois questionamentos buscando um entendimento para ambos nesta discussão.
Um jornalista constrói seu texto com criatividade assim o faz também o escritor, é difícil chegar a conclusão de como estes profissionais constroem seu texto, se por meio de uma técnica, que pode ser ensinada, ou por meio de um dom. “Todos os elementos da boa escrita dependem da habilidade do escritor de escolher uma palavra em vez de outra. E o que prende e mantém nosso interesse tem tudo a ver com essas escolhas” O que faz o jornalista senão isso, escolher palavras? Com o intuito de informar e de transmitir as informações o jornalista produz textos que exigem dedicação, leitura e releitura, um trabalho minucioso de escolha e decisão de palavras.
O significado fundamental do jornalismo na transmissão de noticias não é econômico, é social. Ele se dispõe a informar para sociedade e desta forma tem que responder as suas necessidades e as suas cobranças, logo um dever com o interesse público e para o público. É nesse sentido que o jornalismo possui responsabilidades que são inerentes a sua prática, dentre elas veracidade, objetividade, honestidade, imparcialidade, exatidão e credibilidade mesmo sabendo que muitos desses preceitos são idealizações todavia existe a necessidade de pretendê-los. Essas objetivações promovem um jornalismo de qualidade e que se baseia na responsabilidade com interesse público.
O compromisso que o jornalismo tem não é simplesmente noticiar por noticiar senão qualquer um poderia produzir um texto e publicá-lo em um meio de comunicação qualquer, existe a necessidade de um texto bem feito, e isso inclui habilidade, técnica, edição e experiência que pode ser ensinado sem grandes complicações, mas existem textos e textos. Uns que apesar de excelentes na técnica não apresentam aquela qualidade de produção de alguém que faz um texto com aquilo que chamam de dom. Existem certas habilidades com o manejo das palavras que não podem ser ensinadas, que são aprendidas com a vivência e a maneira como isso se instala na nossa cognição e como acontece esse processamento. Esse efeito se dá tanto no Jornalismo como na Literatura, a diferença de qualidade textual.
Numa linguagem simples o jornal trata as questões essenciais (quem, o que e onde e não o porquê), alguns tipos de literatura também trabalham dessa maneira, uma linguagem simples, mas nem por isso sem conteúdo substancial o que aproxima ainda mais o jornalismo da literatura.
O que se entende por gênero literário? Será que dentro dessa conceituação as características do jornalismo se enquadram?
“Gênero literário na definição clássica, é a espécie de construção estética determinada por um conjunto de normas objetivas, a que toda composição deve obedecer; na moderna, uma soma de esquemas estéticos, com base metodológica e racional, que representam formas de expressão.” O jornalismo é uma construção estética que obedece a normas de forma objetiva e representa acima de tudo uma forma de expressão, logo o jornalismo é uma literatura em prosa de apreciação de acontecimentos.
“O jornalismo é uma literatura sob pressão na medida em que o que dele permanece como literatura resulta de um exercício de criação – ainda que mais de transpiração do que de invenção, mas nem por isso desprovido de inspiração – a pressão do tempo, a pressão do espaço e a pressão das circunstâncias.” (OLINTO,p.29). O transforma o jornalismo numa literatura de velocidade e instantaneidade.
Vale ressaltar que a literatura do livro e a literatura do jornal são diferentes uma vez que respondem a propósitos diferentes e alem de tudo alimentam outras intenções. Diferenciam-se também na forma e no conteúdo e na maneira como desenvolvem a linguagem e o uso e escolhas das palavras na construção dos textos já que são produzidos para consumidores diferentes e diversificados acima de tudo.
Essa conceituação não é unânime e apresenta discussões homéricas a esse respeito, que é tratar o jornalismo como um tipo de produção literária, isso não é consenso, e para muitos, radicalizando inclusive a discussão, consideram que o jornalismo é a morte da palavra.
Historicamente o jornalismo brasileiro viveu anos de desenvolvimento aliado com a literatura. Os textos literários pela dificuldade de publicação em forma de livros eram publicados, diariamente ou semanalmente, em jornais que ficaram conhecidos como folhetins. Isso aproximou bastante a literatura do jornalismo e inclusive influenciou o tipo de produção noticiosa.
Desta maneira podemos observar que não existe uma facilidade em tratar as similaridades entre jornalismo e literatura. As semelhanças são evidentes mas ainda são acometidas infinitas discussões nesse sentido visando chegar num consenso.
O que pode observar é o jornalismo é uma atividade árdua, complexa com diversas propostas estéticas e com uma função social que não deixam dúvidas. Partindo destes pressupostos e desta complexidade observou-se a necessidade de tratar o jornalismo de maneira holística, que fuja do padrão, ver os lados e simplesmente publicar o que é dito por cada um.
O que a literatura instaura no jornalismo, a meu ver, é justamente essa visão do todo, do complexo, que as ações sociais não são control C e control V que o jornalista apenas reproduz no seu texto. A literatura chama a atenção quando deixa claro que a decisão do uso das palavras é de quem produz o texto e isso demonstra a impossibilidade do jornalismo ser imparcial e que o autor é o responsável pelo que ele escreve e não suas fontes.
Se jornalismo é literatura, vejamos o que essas discussões ainda renderão, mas desde já que saibamos que o jornalismo produz um tipo textual característico, que possui conteúdo, intenção, informação e isso os textos literários também apresentam. Não visualizemos os conteúdos jornalísticos como uma literatura romanceada, porque eles estão longe de apresentarem características de romances. No entanto não deixam de ter sua relevância para construção de elementos de dinamizam as Letras, a literatura e si.
O jornalismo tem como sua expressão básica a noticia, e assim sendo possui seu próprio espaço, que serve a literatura, que faz literatura e em vezes é efetivamente literatura, dependo do meio de comunicação, mas que acima de tudo é jornalismo. E cabendo efetivamente dentro da concepção de gênero literário. Mas que possui em seu intimo um lado anti-literário, na medida em que não pode alterar os fatos, quando tem que ser sintético diferente de vários textos literários que se esbaldam com as palavras, e quando não podem descaracterizar o fatos.
O jornalismo é uma atividade dialética, maleável, que encanta sendo vezes literatura vezes somente fatos.

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